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ESPECIAL: 10 anos após terremoto, L’Aquila ainda aguarda reconstrução

Após 10 anos do terremoto que devastou L’Aquila, capital da região de Abruzzo, no centro da Itália, a cidade e os municípios dos arredores ainda precisam de mais de 7 bilhões de euros para completar sua reconstrução.

A estimativa é do Gabinete Especial para a Reconstrução de L’Aquila (Usra), que entrou com um pedido para o governo italiano reduzir a burocracia e permitir o uso imediato de recursos com prazo de validade fixado em 2020.

O terremoto de magnitude 6.3 na Escala Richter ocorreu na madrugada de 6 de abril de 2009 e deixou 309 mortos, 1,6 mil feridos, milhares de desabrigados e uma cicatriz no centro da Itália, que em agosto de 2016 seria devastado por um novo sismo, desta vez em Amatrice.

Segundo a Usra, a reconstrução de residências privadas caminha mais rapidamente que a de edifícios públicos, que sofre com a demora na publicação dos editais de licitação. “Precisamos de um último esforço, porque a reconstrução privada alcançou bons níveis, aceitáveis, mas é preciso ir até o fim. Precisamos de novos recursos e procedimentos para gastar aqueles já disponíveis mais rapidamente”, declarou o responsável pelo gabinete, Antonio Provenzano.

O Usra e o Gabinete Especial para a Reconstrução das Cidades da Cratera (Usrc) estimam em 6 bilhões de euros o montante necessário para a reconstrução privada e em 1,3 bilhão a cifra que deve ser destinada para obras públicas.

Quase 9 mil famílias ainda vivem em habitações provisórias, sendo 4 mil em L’Aquila e 4,8 mil nas cidades dos arredores.

“Não é simples fixar uma data para a reconstrução, existem fatores que não dependem de nós”, disse Raffaello Fico, responsável pelo Usrc.

Reconstrução – Passada uma década do terremoto, L’Aquila dá sinais de renascimento, com igrejas e palácios completamente recuperados. As obras nas periferias já foram concluídas há tempos, e a reconstrução privada do centro histórico está em fase avançada.

A verdadeira sombra está na reconstrução pública, que praticamente não saiu do papel. Até hoje, nenhuma escola pública destruída pelo terremoto foi refeita, e apenas uma está com obras em curso.

Os alunos desses colégios frequentam módulos provisórios criados em 2009 e que já deveriam estar desativados – muitas crianças sequer conhecem uma escola de verdade. “Os entulhos continuam aqui”, lamenta Silvia Frezza, membro de uma comissão criada para cobrar a reconstrução dos colégios públicos.

O centro histórico de L’Aquila é o maior canteiro de obras da União Europeia, um labirinto de ruas de 177 hectares tomados por operários e betoneiras e pelo eco ensurdecedor das ferramentas.

A região ainda está praticamente desabitada, e seu suspiro de vida é o movimento nas noites dos fins de semana.

Cerca de 80 atividades comerciais funcionam hoje no centro histórico, contra as 8 mil que existiam antes do terremoto. Os pioneiros que apostaram na recuperação do coração da cidade correm risco de falência e cobram a abertura de serviços, como bancos, estacionamentos e correios, para incentivar o afluxo de pessoas.

“A reconstrução estrutural está caminhando, mas há uma desatenção com a reconstrução imaterial. Como comerciantes, normalmente presentes onde há pessoas, somos uma anomalia, porque estamos esperando as pessoas. É preciso reverter a tendência dos últimos 10 anos que vê os aquilanos vivendo e fazendo compras fora”, diz o fotógrafo Roberto Grillo.

“Fomos os primeiros a reabrir, em 8 de julho de 2010. Muitos diziam que estávamos malucos. Hoje é difícil sobreviver, porque há pouquíssima gente”, reforça o dono de um açougue.

“Acreditamos no centro histórico, mas ele ainda está desabitado, por isso pedimos estacionamentos e eventos durante o dia”, acrescenta Elisa, dona de uma livraria infantil.

O prefeito Pierluigi Biondi rebate quem fala em “cidade parada” e diz que L’Aquila é o “mais importante exemplo de regeneração urbana” depois da Segunda Guerra Mundial.

A tragédia – No início de 2009, L’Aquila enfrentava uma sequência sísmica que já somava mais de 200 terremotos. Em 30 de março, uma comissão se reuniu para discutir a situação, que já era alarmante e causava preocupação em toda a cidade.

“Eram dias de angústia, eu estava preocupado com a cidade”, conta o prefeito da capital de Abruzzo na época, Massimo Cialente. “Na madrugada de 6 de abril, às 3h32, chegou o grande tremor. Abri a porta de casa, e o centro histórico era um cogumelo atômico de pó amarelo. Minha sogra diz que eu gritava repetidamente: ‘L’Aquila acabou!’. Por volta de 4h, deixei minha família em uma área segura e a revi por 20 minutos, dois dias depois”, acrescenta.

Naquela madrugada, Cialente circulou com a Proteção Civil para determinar as áreas que receberiam as tendas para desabrigados – 75 mil pessoas somente em L’Aquila. “Lembro que andava pelo centro. Uma vez, na escuridão total, enquanto estava sozinho, com a luz de uma tocha vi, através de uma vitrine, manequins caídos uns sobre os outros. Pareciam corpos sob os escombros, e senti angústia e medo. Havia apenas alguns gatos circulando, e meu coração se animava quando eu via os militares que protegiam o centro”, diz.

 

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