O norte-americano Spike Lee atraiu os holofotes, mas a principal homenagem do Festival de Veneza 2012 será ao veterano Francesco Rosi, um dos expoentes do grande cinema político italiano. Rosi, 89 anos, receberá um Leão de Ouro pela carreira e verá exibido na principal vitrine do festival, a Sala Grande, seu clássico "O Caso Mattei", em cópia restaurada.
É autor de alguns dos principais filmes italianos dos engajados anos 60 e 70, como "Bandido Giuliano" (1962), que exerceu grande influência sobre o Cinema Novo e, em especial, sobre Glauber Rocha. É diretor também de "As Mãos sobre a Cidade" (1963), "Lucky Luciano" (1973), "Cadáveres Ilustres" (1976) e "A Trégua" (1997), este baseado em livro de Primo Levi. Saído do neorrealismo, o cinema desse autor nascido em Nápoles em 1922, se detém sobre a relação do homem com seu meio social. É político até a medula e não sabe pensar-se fora desse âmbito.
"O Caso Mattei", com Gian Maria Volonté no papel principal, fala do esforço da empresa estatal italiana do petróleo, a ENI, para se firmar em meio aos interesses das muito mais poderosas sete "irmãs" do ramo petrolífero. Seu presidente, o nacionalista Enrico Mattei (1905-1962), em sua luta contra o oligopólio petrolífero, chegou a buscar apoio da União Soviética, em plena Guerra Fria. Morreu num acidente aéreo envolto em suspeita de atentado.
A "O Caso Mattei", juntam-se outros filmes antigos, em cópias restauradas, na seção Venezia Classici. Alguns são bem manjados, como "Crepúsculo dos Deuses" (1950), de Billy Wilder, "Fanny e Alexander" (1982), de Ingmar Bergman, e "Stromboli" (1950), de Roberto Rossellini, com a divina Ingrid Bergman como a refugiada que se casa com um pescador. Outra atração imperdível dessa sessão será, sem dúvida, "Portal do Paraíso", de Michael Cimino, outro dos homenageados.