História da Itália

HISTÓRIA E CURIOSIDADE: Itália, o país das cidades fantasmas

Localizada 50 quilômetros ao norte de Roma, Monterano já teve seus dias de glória.

À época do Império, tornou-se referência cultural; na Idade Média, sua diocese estava entre as principais da Igreja Católica.

Os séculos seguintes, no entanto, não foram tão generosos. A cidade murchou economicamente e, na década de 1790, comprou uma malfadada briga no comércio de grãos com comunas vizinhas. O atrevimento lhe custou a vida: tropas mercenárias francesas incendiaram suas construções tão rapidamente que boa parte da população sucumbiu entre as chamas. Um surto de malária incumbiu-se de acabar com os poucos sobreviventes. Monterano juntou-se, então, a um grupo de membros incontáveis: as cidades fantasmas da Itália. Um email com imagens das mais belas delas faz sucesso na internet.

Embora ninguém arrisque o tamanho desse contingente, pode-se afirmar que ele não é dos menores. Primeiro, pela quantidade de cidades minúsculas do país. A Itália tem cerca de 8 mil comunas (equivalente a municípios). O Brasil, com território 28 vezes maior, conta com cerca de 5,5 mil. Segundo, pela antiguidade das ocupações urbanas. Desde as colônias da Magna Grécia, são quase 30 séculos em que, ora a população habitava as planícies, ora deslocava-se para o alto de montanhas. Terremotos, guerras e pragas transformaram povoados em desertos séculos atrás; dificuldades econômicas cumprem o mesmo papel hoje.

– Há comunas que foram reduzidas a 70, 80 habitantes, porque eram comunidades de alto de montanha e seus habitantes se deslocaram para planícies ou grandes cidades, com maior capacidade de desenvolvimento e mercado de trabalho – conta Julio Cezar Vanni, historiador e pesquisador da imigração italiana. – As necessidades modernas fizeram até um vilarejo inteiro ser inundado, para dar lugar a uma hidrelétrica, em Careggine, na Toscana. De dez em dez anos, quando o reservatório é esvaziado, as casas reaparecem e os turistas vão visitá-las.

Entre as dezenas de casos curiosos, há histórias como a de Ravello, encravada entre montanhas da Campania, no sul do país. Na Idade Média, a comuna estava entre as mais ricas e civilizadas da península itálica. Sua população chegou a 300 mil pessoas. Hoje, ela foi reduzida a tímidas 2.435.

– Cidades são animais sociais. Uma cidade, para prosperar, precisa estar inserida em uma rede complexa de outros assentamentos, pequenos e grandes, que garantam o seu sustento. Não foi o que ocorreu com Ravello – explica Guido Martinotti, professor de Sociologia Urbana da Universidade de Milano-Bicocca. – A Itália tem uma longa história de assentamentos urbanos, com várias superposições. Este processo foi visto várias vezes no país.

Queda do Império levou povo para as montanhas

A "primeira onda de cidades fantasmas", como chama o sociólogo Francesco Ranci, é anterior aos feudos medievais. Segundo o professor da Universidade do Sagrado Coração, de Connecticut (EUA), a queda do Império Romano foi o primeiro motor para que muitos povoados fossem deixados para trás.

– Nos séculos seguintes ao Império, a população sentiu que só poderia viver com segurança no topo das montanhas. As vilas próximas ao mar ou instaladas em vales foram abandonadas – assinala. – Guerras e epidemias também contribuíram para esvaziar muitas outras comunas. Demorou muito para que estas regiões fossem ressuscitadas.

Uma nova reviravolta ocorreu na Idade Média, que deu um golpe quase mortal nas cidades europeias. Roma, que tinha 1 milhão de habitantes no século I, viu sua população ser reduzida para pouco mais de 20 mil no século X, quando o sistema feudal atingiu o seu auge. (O GLOBO)

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