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Oposição italiana consegue impedir Kadhafi de discursar no Senado em Roma

A revolta dos senadores do partido Itália dos Valores (IdV) e até mesmo a reacção dividida do Partido Democrático conseguiram fazer com que o discurso que Muammar Kadhafi, chefe de Estado da Líbia, deveria fazer amanhã no Senado, como presidente da União Africana, fosse cancelado: será recebido no Senado, mas não na sala do plenário.

 

Kadhafi chegou ontem a Roma para uma visita histórica, a primeira do líder da revolução líbia à antiga potência colonial.

 

Mas além da pompa que lhe é habitual, trouxe também uma alfinetada ao peito contra o antigo colonizador — que acirrou ainda mais os protestos que já se faziam ouvir contra o convite. “É uma vergonha deixar falar ali um ditador que não respeita os direitos humanos”, tinha dito Stegano Predica, da IdV, o partido do juiz Antonio Di Pietro.

 

O dia passou-se todo em grande agitação, pois o coronel Kadhafi desceu do avião com uma fotografia a preto e branco colada ao peito. De que se tratava? De um retrato de Omar Al Mukhtar, herói da independência, nas revoltas anticoloniais entre 1923 e 1931, capturado e morto pelos fascistas de Mussolini.

 

E como se a foto ao peito não fosse uma bofetada de luva mais ou menos branca no antigo colonizador, o coronel Kadhafi trazia mais um trunfo no seu avião: Mohamed Omar al Muktar, filho do herói líbio que ficou conhecido como Leão do Deserto, desceu os degraus do avião com muita dificuldade, apoiado numa bengala.

 

O primeiro-ministro Silvio Berlusconi, que o foi receber ao aeroporto (apesar de ter dores musculares que o levaram a anunciar que não conseguiria ir), manteve a compostura: “Encerra-se uma longa página dolorosa”, disse a Kadhafi.

 

“Premeditada provocação”

 

A IdV considerou “imperdoável” o silêncio do Governo italiano perante a “provocação” do líder líbio. “Mas onde tinha Berlusconi os olhos? Será possível que não se tenha dado conta da premeditada provocação do líder líbio”, interrogou Stefano Pedica, citado pelo jornal La Repubblica, que seguiu a visita quase minuto a minuto, num blogue on-line.

 

Khadafi levou o uniforme com a foto ao encontro com o Presidente da República, Giogio Napolitano. “De Kadhafi ouço palavras de grande moderação em África”, disse Napolitano, aparentemente também cego em relação à foto que o líder da revolução líbia continuava a exibir ao peito. “A Itália de hoje já não é a de antigamente”, concedeu Kadhafi.

 

Mas enquanto decorria o escândalo da foto (Kadhafi mudou de roupa durante a tarde), agudizava-se a polémica sobre o discurso no Senado.

 

A UDC (União do Centro) estará ausente da sessão em que falará Kadhafi. E o convite estava a dividir o Partido Democrático (PD), a principal força da oposição: o grupo parlamentar no Senado deliberou que não deveriam estar senadores eleitos pelo PD a ouvir Kadhafi; mas alguns discordam. Franco Marini garante que vai ouvir o líder líbio.

 

Finalmente, realizou-se uma reunião dos líderes dos grupos parlamentares para decidir o que fazer — e os senadores do IdV ocuparam a sala do plenário, ameaçando não sair dali, para impedir o discurso de Kadhafi. “Ficaremos aqui hoje, amanhã e depois de amanhã para impedir o discurso”, afirmou Pedica.

 

No meio de tanta polémica, os líderes parlamentares cederam, e a prédica de Kadhafi não se realizará na sala do plenário: foi transferida para a Sala Zuccari do Palácio Giustiniani, um edifício ligado ao Palácio Madama, onde está o Senado.

No meio disto tudo, Berlusconi foi estabelecendo acordos económicos com Kadhafi durante a tarde.

 

Fonte: Reuters

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