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Mulheres são principais vítimas das redes de tráfico de pessoas entre Brasil e Itália

Um "príncipe estrangeiro", uma parente ou conhecida bem-sucedida lá fora, um casamento desfeito, uma decepção amorosa ou, simplesmente, o desejo de uma aventura migratória e "glamour". Sonho e realidade se misturam para explicar o que leva brasileiras a se envolverem em redes de tráfico de pessoas. A pesquisa exploratória sobre tráfico de seres humanos do Brasil para Itália e Portugal, batizada de Jornada Transatlântica, ouviu 84 pessoas nos três países, entre vítimas e informantes-chave. O trabalho vai contribuir para as discussões do II Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, que vai atualizar as diretrizes do primeiro, de 2006.

Embora comecem a ser identificados homens vítimas deste tipo de crime, 80% ainda são mulheres para exploração sexual. Há também travestis, que tentam seguir o exemplo dos que migraram sozinhos nas décadas de 80 e 90. “As cafetinas estão na Itália e no Brasil. A cafetina de São Paulo seleciona os novos, os bonitos, aqueles que ela sabe que será um negócio muito lucrativo. Então, ligam para Itália e o negócio está feito. Eu tinha só que trabalhar e elas dividiam o dinheiro”, disse um transexual ouvido na pesquisa.

Entre os estados de origem de mulheres e transexuais estão Paraná, Goiás, Minas Gerais, Pará, Piauí e Pernambuco. São Paulo e Rio de Janeiro funcionam como polos de atração, de onde partem rumo ao exterior, mas já não são os únicos. Os informantes enfatizaram uma diminuição substantiva na idade dos explorados no mercado do sexo na Itália. Adolescentes são tidas como altamente rentáveis, apesar de os grupos criminosos enfrentarem riscos maiores. Para lidar com a repressão policial, eles movimentam as jovens, com frequência, dentro e entre áreas e regiões diferentes. Elas ficam aprisionadas em apartamentos ou casas de prostituição, sem liberdade de movimento. Uma cafetina controla e organiza o trabalho das mais novas. Geralmente, vive com três ou quatro novatas.

Na Itália, formas de turismo sexual interno estão se desenvolvendo na costa oriental. No verão, homens italianos viajam para estas áreas turísticas com o intuito de consumir sexo com mulheres e transexuais de outros países, “raças” e etnias. "No balneário de Lido di Classe, próximo a Ravenna, todo verão é polêmico por causa da presença de aproximadamente 100 transexuais num vilarejo com cerca de 440 residentes italianos", relata o estudo.

As brasileiras vítimas de tráfico na Itália são, frequentemente, jovens mãe solteiras, que migram para sustentar seus filhos. Elas mesmas são filhas de mães solteiras. Os pesquisadores notaram que os dois grupos – mulheres e transexuais – têm pouca informação e, em geral, são incapazes de decifrar o montante em euros que deve pagar.

De acordo com os pesquisadores, a maioria dos entrevistados sabia que teria de trabalhar no mercado do sexo. Mas somente ao chegar lá descobriram que tinham que pagar a cafetina por tudo – de alimentação e aluguel a documentos e propaganda na internet, além do “local de trabalho”. Desta forma, ficam aprisionados à rede por casa, trabalho e contato com clientes. A dívida acumulada chega a 15 mil euros.

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