Catolicismo Romano

CATOLICISMO ROMANO: Os doze meses de Pontificado do Papa Francisco – Análise de Fausto Gasparroni

"A partir do momento em que fui convidado a viver da maneira como peço aos outros, comecei a pensar em uma conversão do papado".

Nessa passagem, presente na exortação apostólica " Evangelii Gaudium ", do último dia 24 de novembro, o papa Francisco fala da Igreja Católica "em estado permanente de missão", da "conversão pastoral e missionária que não pode deixar as coisas como estão" e da "salutar descentralização".

 

A mudança de curso proposta por Jorge Mario Bergoglio, exigindo que a Igreja não se feche mais em si mesma e que se abra à periferia, servindo de "hospital de campo para as feridas do mundo", tem recebido inúmeras interpretações ao longo dos últimos meses. Mas o próprio Bergoglio foi o primeiro a interpretá-la, há um ano, antes de todos. 

Essa "conversão", iniciada na noite de 13 de março do ano passado, foi demonstrada em cada gesto e discurso do Papa "do fim do mundo", com uma força profética que muitos acreditam ser uma verdadeira "revolução".

Seu antecessor, Bento XVI, que abriu uma nova fase na Igreja Católica com sua explosiva renúncia, também era um homem atento às doutrinas, aos princípios, à não negociação de valores.

E Francisco governa em nome de uma igreja samaritana, cheia de misericórdia e ternura, nascida nas raízes de Bergoglio em Buenos Aires, onde era um genuíno padre das ruas ("callejero", como ele mesmo diz), que vê sua missão na proximidade aos mais necessitados e marginalizados. Desse contexto que surge a ideia da "Igreja pobre e para os pobres", da sua vontade, a todo custo, de permanecer perto do povo, desafiando os aparatos de segurança do Vaticano. É daí que nascem novos hábitos (como as missas em Santa Marta), o desejo de enfrentar os problemas comuns nas famílias cristãs (tema de dois sínodos consecutivos), dos divorciados, da comunhão…

A enorme popularidade catalisada por Bergoglio, desde os primeiros dias de seu pontificado, e depois traduzida em coberturas de jornais de todo o mundo, inclusive na capa da revista Time como "Personalidade do Ano", é a base de onde o Papa argentino tira sua força para fazer a transição de uniformizar e ossificar a cúria. E esse ainda é um de seus maiores desafios.

A grande reforma chegou. O conselho de oito cardeais está trabalhando para reescrever a "Pastor Bonus", a Constituição Apostólica Romana. A reestruturação dos organismos econômicos — que tantos problemas e escândalos produziram no passado — está em vigor, com a criação de novos organismos de finanças da Santa Sé, que se reportará diretamente a Francisco e terá como vice-diretor seu secretário pessoal Alfred Xuereb.

Também há as reformas do Instituto para as Obras de Religião (IOR, conhecido como Banco do Vaticano) e da Administração do Patrimônio da Sede Apostólica (APSA), e as simplificações na estrutura de dicastérios vaticanos.

Mas Francisco quer mais. Ele deseja erradicar os comportamentos e mentalidades que, nas últimas décadas, levaram a gestão vaticana, principalmente na época do Valileaks, a uma das piores crises de sua história. É uma mudança que todas as igrejas do mundo pedem e que é a origem da eleição de Bergoglio. A cúria não deverá ser mais uma "central de poder" autorreferencial.

Finalmente, será uma entidade a serviço das igrejas em particular. É um desafio que Francisco ainda não venceu. Exige uma mudança de mentalidade: a "conversão do coração", que o Papa não se cansa de pedir e dar exemplo.

 

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