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Série de vazamentos de documentos confidenciais da Santa Sé gera polêmica na Itália

A série de vazamentos de documentos confidenciais da Santa Sé publicados pela imprensa italiana, no que foi apelidado de o caso "Vatileaks", começou em janeiro passado e causou escândalo na opinião pública, especialmente na Itália, pelas revelações sobre a luta interna nos altos escalões da Igreja Católica.

As primeiras indiscrições foram publicadas em janeiro, principalmente pelo programa "Gli intoccabili" (Os intocáveis) do canal privado La 7 e as páginas do jornal Il Fatto Quotidiano, com a participação do jornalista Gianluca Nuzzi, que também trabalha para outro jornal, o Libero.

Desta forma foram reveladas algumas cartas confidenciais enviadas por monsenhor Carlo Maria Viganò, atual núncio apostólico em Washington, para as maiores autoridades da Igreja, que denunciavam a existência de corrupção e má gestão na administração vaticana.

A estas se somou um relatório sobre supostas declarações feitas na China pelo arcebispo de Palermo, Paolo Romero, em que se considerava a possibilidade de Bento XVI renunciar ao trono de Pedro, e denunciavam manobras políticas em torno do secretário de Estado vaticano, cardeal Tarcisio Bertone.

Em uma entrevista publicada em 16 de março pelo Osservatore Romano, jornal oficial da Santa Sé, monsenhor Giovanni Angelo Becciu anunciou a criação da comissão de inquérito de cardeais, destacando que Bento XVI "acompanhava o caso com muito sofrimento".

A secretaria de Estado vaticana também explicou que a citada comissão atuaria sob mandato pontifício em todos os níveis.

Apesar das investigações da polícia vaticana, sob o controle da comissão de cardeais criada para o caso, há poucos dias Nuzzi (que já tinha escrito um livro sobre as finanças da Santa Sé, "Vaticano SA") publicou a obra "Sua Santidade, os papéis secretos de Bento XVI", contendo novas revelações.

Entre os papéis secretos que vazaram estava, por exemplo, uma mensagem enviada ao secretário do Papa por Dino Boffo, atual diretor da emissora de televisão do Vaticano e ex-diretor de Avvenire, o jornal da Conferência Episcopal Italiana (CEI).

Boffo foi o centro de um escândalo iniciado a partir das páginas do jornal Il Giornale – de propriedade do irmão do ex-premier Silvio Berlusconi -, onde foi acusado de hipocrisia moral por criticar a imoralidade da vida privada do ex-primeiro ministro, quando ele mesmo era um homossexual não declarado, que havia assediado por telefone a esposa de um de seus amantes.

O caso esvaziou quando se comprovou que os supostos documentos judiciais que implicavam Boffo eram falsos, mas o jornalista, nos documentos reservados divulgados por Nuzzi, disse que foram filtrados por Gian Maria Vian, o diretor do jornal da Santa Sé, L'Osservatore Romano.

O Vaticano reagiu duramente, com uma declaração oficial em que afirmou que "a nova publicação de documentos da Santa Sé e de papéis privados do Santo Padre já não é apresentada como uma questionável iniciativa jornalística – e objetivamente difamatória, mas assume as características de um ato criminoso".

A prisão do mordomo do Pontífice, Paolo Gabriele, anunciada no Vaticano, poderia ser apenas mais um capítulo do escândalo Vatileaks, posto que o caso do vazamento de documentos sigilosos também foi citado, em relação à renúncia do presidente do Instituto de Obras Religiosas (IOR), o Banco do Vaticano, Ettore Gotti Tedeschi.

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