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DEBATE: Cidadania italiana para filhos de imigrantes nascidos na Itália?

O presidente da República Italiana, Giorgio Napolitano, disse que considera um absurdo que os filhos de estrangeiros nascidos no país não tenham a cidadania italiana, provocando um debate sobre a questão nos partidos políticos. "Espero que no Parlamento também se trate a questão da concessão da cidadania para filhos de imigrantes estrangeiros nascidos na Itália: negá-la é uma verdadeira loucura, algo absurdo, porque as crianças têm essa aspiração", disse Napolitano durante uma reunião com as Igrejas Evangélicas da Itália.

A presença dos filhos de imigrantes no país, destacou o chefe de Estado, servirá para que a Itália "possa absorver novas energias, em uma sociedade que em muitos aspectos está envelhecida e até esclerosada".

O posicionamento de Napolitano foi bem recebido pela maioria das forças políticas italianas – das do centro às da esquerda, mas os partidos da ex-maioria de centro-direita e, em particular a Liga Norte, o criticaram duramente.

Pierferdinando Casini, líder da União Democrática de Centro (UDC, oposição democrata-cristã) disse que "compartilha plenamente" a posição do presidente, enquanto Livia Turco do Partido Democrático (PD, centro-esquerda) opinou que o apelo de Napolitano ao Parlamento "não pode ser ignorado".

Já para Maurizio Gasparri, líder da bancada de senadores do Povo da Liberdade (PDL, partido do ex-premier Silvio Berlusconi), "não se podem enfrentar as leis de cidadania à força de simplificações: não é uma loucura que na Itália se aplique o princípio do jus sanguini (direito de sangue) e não o de jus soli (direito do solo), como ocorre em muitos outros países". 

Roberto Calderoli, ex-ministro da Liga, opinou por sua vez que o seu partido irá se opor a qualquer reforma do direito à cidadania e, para tanto, está "disposto a erguer barricadas no Parlamento e nas ruas", já que "a verdadeira loucura seria a concessão da cidadania por jus soli e não só por jus sanguini".

Depois do apelo do chefe de Estado para que seja aprovada a lei que trata da questão da cidadania para as crianças de pais estrangeiros nascidas no país, o senador do PD Ignazio Marino, apresentou um projeto de lei assinado por 113 senadores (todos os do PD, IDV e alguns do Terceiro Pólo), que altera a Lei de 1992 e dá a cidadania a todos os nascidos na Itália, independente da dos pais. 

''Existe uma discriminação incompreensível contra os filhos de imigrantes nascidos na Itália, como também atestou o presidente Napolitano. Uma criança sem cidadania sempre será um estrangeiro em um país que, ao contrário, vive e sente como próprio", observou Marino, que acrescentou: 

"O multiculturalismo e a comparação entre identidades culturais distintas são recursos em que investir. Discriminar a infância, comprometendo o crescimento equilibrado das crianças nascidas na Itália de pais imigrantes é algo incivilizado: nosso país já não pode se dar ao luxo de viver na intolerância e neste atraso cultural. Com todo o respeito pela parcela do mundo político que rejeita a modernidade, devemos seguir em frente e dar mais um passo'', concluiu Marino.

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