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ESPECIAL: Giorgia Meloni poderia ser primeira-ministra da Itália? – Por Vilma Gryzinski

Perto dela, Marine Le Pen parece boazinha. Pelo menos a líder da extrema-direita francesa, e fadada sempre ao segundo lugar na disputa presidencial, é ativamente a favor dos direitos clássicos para homossexuais.

Aliás, é por causa delas que hoje seu partido, chamado pelos inimigos de “pós-fascista” , pela origem mussoliniana, chegou a 20% das preferências, dois pontos à frente da Liga, de Matteo Salvini, o nome mais vistoso da nova direita populista (a velha é a de Silvio Berlusconi, com 85 anos e ainda um certo gás).

Giorgia, hoje com 45 anos, foi ministra da Juventude do governo Berlusconi e parecia na época uma das bonitinhas de quem o multimilionário mulherengo se cercava.

Mostrou ser muito mais do que isso. Nascida num bairro pobre, com um currículo que inclui trabalhos como babá, garçonete e bartender, ela tem fogo nas ventas e inflama comícios com uma introdução que virou meme:

“Eu sou Giorgia, sou mulher, sou mãe, sou italiana, sou cristã”.

As especulações sobre seu nome como potencial primeira-ministra voltaram à tona agora e, para acompanhá-las, é preciso seguir meandros da política italiana.

Com ironia típica, a eleição foi apelidada de “Quirinale Game”, referente ao palácio presidencial, que fica no monte Quirinal, e à série sul-coreana Squid Game.

Enquanto isso, fervem as negociações de bastidores – inevitavelmente chamadas de maquiavélicas.

Se dependesse do voto direto dos italianos, a questão estaria resolvida. O escolhido seria Mario Draghi, o atual primeiro-ministro. Conhecido como Super Mario quando deu nó em pingo d’água para salvar o euro da última crise, quando era presidente do Banco Central Europeu, ele é uma unanimidade, dentro e fora do establishment.

Draghi também não esconde que gostaria de ser presidente, uma figura cerimonial no regime parlamentarista, mas que durante as crises por falta de maioria para formar governo, frequentes na Itália, ganha um papel muito maior, podendo inclusive escolher um primeiro-ministro. Com ele, a presidência ganharia uma importância política muito maior.

Problema: poucos querem tirá-lo da chefia do governo – de união nacional, inclusive com a participação do partido de Salvini -, num momento chave para as reformas das quais dependem  os mais de 200 bilhões de euros liberados pela União Europeia para ajudar a Itália a se recuperar da crise do coronavírus.

Não está totalmente descartado que possa haver nova eleição geral.  E aí é que Giorgia poderia colocar o pezinho no governo, na qualidade de líder do partido mais popular da frente de direita, da qual fazem parte Salvini e Berlusconi.

É claro que a disputa real se dá entre Giorgia e Salvini, apesar das juras recíprocas de unidade. Salvini queimou o filme quando tentou armar um jeito de ser primeiro-ministro e se deu mal. Fez uma campanha que consistia em ir de praia em praia, em pleno verão, tomar mojitos e tirar selfies com potenciais eleitores.

Mas certamente ele tem projetos de longo prazo.

Giorgia também. O Irmãos da Itália teve apenas 4% dos votos quando entrou na cena nacional, em 2018. Disputa com a Lega de Salvini exatamente o mesmo eleitorado, talvez uma fatia de desiludidos com o Cinco Estrelas. O principal tema de ambos é a imigração, clandestina e inexorável, que leva à Itália constantemente novas levas humanas, geralmente homens jovens, vindas da África Subsaariana e do Norte do continente.

Uma das vantagens do partido de Giorgia é ser considerado ideologicamente menos comprometido, por nunca ter participado de nenhum governo.

Giorgia Meloni pode ser incluída entre mulheres de direita – com vários graus de diferenciação – que estão despontando no cenário político europeu.

Na França, além da eterna Marine Le Pen, surgiu agora Valérie Pécresse, da direita tradicional, ou centro direita.

Quando ela foi eleita candidata do Republicanos, o nome atual do gaulismo, Pécresse ganhou um bom gás e ainda não é considerado impossível que seja ela, não Marine Le Pen, quem vá para o segundo turno contra Emmanuel Macron, em abril. Ou seja, no primeiro turno a briga será entre as duas.

Na Inglaterra, um nome que está circulando no momento em que Boris Johnson afunda no pântano de pequenos, mas simbólicos, escândalos é o de Liz Truss.

Atual ministra das Relações Exteriores, ela é uma potencial candidata a líder do Partido Conservador caso as festinhas de Boris – e a reação interna do partido – não deixem alternativa que não seja a renúncia.

“Quem é Liz Truss? Provavelmente há pessoas na China se perguntando nesse momento se ela é realmente louca ou se quer uma guerra entre o seu país e o dela”, exagerou o Global Times, a voz do Partido Comunista Chinês para o mundo.

Foi um presente para uma política conservadora que quer ser vista como durona e que, quando estava no ministério da Defesa, se fez fotografar dentro de um tanque, com capacete – uma imitação nada sutil de Margaret Thatcher.

O conservadorismo britânico também influencia Giorgia Meloni através do pensamento do filósofo Roger Scruton.

Mesmo quem não concorda com nada do que ela diga, inclusive as previsões exageradas de que o passaporte vacinal implicaria num “suicídio econômico”, tem que admitir, em nome da honestidade intelectual, que o nível do debate sobe muito quando Scruton entra na roda.

“Ele nos explicou que o conservadorismo nasce da convicção de que é fácil destruir coisas boas, mas não é fácil criá-las”, escreveu Giorgia sobre o filósofo, que morreu em 2020.

O Fratelli d’Italia é hoje o partido mais favorecido nas pesquisas de opinião, dividindo a mesma faixa – pouco acima ou pouco abaixo dos 20% – com a Liga de Salvini e o Partido Democrático, herdeiro do espólio reconstruído do velho comunismo.

Mesmo que a eleição presidencial seja resolvida sem grandes mudanças, a próxima eleição nacional tem que ser feita até junho do ano que vem. Um prazo bom para Georgia Meloni florescer ou refluir.

(Por Vilma Gryzinski)

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