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Ex-premiê Renzi rompe com governo Conte e abre crise política na Itália

O ex-premiê da Itália e senador Matteo Renzi anunciou seu rompimento com o governo do primeiro-ministro Giuseppe Conte e abriu uma crise política que pode até culminar em eleições antecipadas.

O fim da aliança foi sacramentado com a renúncia das ministras Teresa Bellanova (Agricultura) e Elena Bonetti (Família), representantes do Itália Viva (IV), pequeno partido de centro fundado e liderado por Renzi.

“É muito mais difícil deixar cargos do que se agarrar ao status quo. Nós vivemos uma grande crise política, estamos discutindo perigos ligados à pandemia. Frente a essa crise, o senso de responsabilidade pede para resolver os problemas, e não escondê-los”, disse o ex-premiê durante coletiva de imprensa em Roma.

O rompimento chega horas depois de o governo ter aprovado o plano de utilização do fundo de recuperação da União Europeia, tema que foi motivo de divergências na base aliada nas últimas semanas.

No entanto, o aval ao programa de estímulos não serviu para superar as diferenças entre forças historicamente rivais – Bellanova e Bonetti inclusive se abstiveram na votação no Conselho dos Ministros.

Renzi foi um dos artífices do acordo com o antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S) – seu arquirrival na política italiana -, que possibilitou o nascimento do segundo governo Conte, em setembro de 2019.

Na época, o ex-premiê era expoente do centro-esquerdista Partido Democrático (PD) e dizia ser movido pelo desejo de evitar eleições antecipadas após a saída de Matteo Salvini do governo – algo que provavelmente levaria a uma vitória da extrema direita nas urnas. Logo depois do acordo, Renzi rompeu com o PD e fundou o Itália Viva (IV), tornando-se a principal voz dissonante no governo. Além das divergências sobre os fundos da UE, Renzi critica Conte por acumular o comando dos serviços secretos com o cargo de premiê e por rechaçar o
Mecanismo Europeu de Estabilidade (ESM), instrumento de socorro a nações em dificuldade na eurozona mediante empréstimos com juros subsidiados.

Renzi também já expôs sua contrariedade em relação às políticas de comunicação do governo e à renda básica de cidadania, espécie de “bolsa família” da Itália e bandeira do M5S.

“O rei está nu. Pensar que é possível resolver os problemas com um tuite ou um post no Instagram é populismo.

A política pede respeito às liturgias da democracia”, declarou o exprimeiro-ministro.Renzi ainda negou que o rompimento em plena pandemia do novo coronavírus seja uma “irresponsabilidade”. “Existe uma dramática emergência a ser enfrentada, mas isso não pode ser o único elemento que mantém o governo vivo”, disse.

Cenários

Com a saída do Itália Viva do governo, Giuseppe Conte perde sua maioria no Senado e pode ter de entregar o cargo ao presidente Sergio Mattarella. Neste caso, caberia ao chefe de Estado definir o caminho para solucionar a crise, abrindo conversas com os partidos para verificar se há condições de formar uma nova base aliada.

Conte também já ventilou a hipótese de pedir o voto de confiança ao Parlamento, apostando no apoio de dissidentes dentro do Itália Viva ou de senadores da oposição conservadora contrários à abertura de uma crise neste momento de pandemia.

Caso os partidos fracassem em formar um novo governo, Mattarella pode se ver forçado a convocar eleições antecipadas, possibilidade que sempre desagradou o presidente e que também não entusiasma os líderes políticos.

“Não vamos votar agora, vamos votar em 2023”, disse Renzi. Já o governador da Ligúria, Giovanni Toti, de centro-direita, afirmou que alguém deve “se encarregar de conduzir [o país] até um momento mais tranquilo”.

Ainda no início de sua campanha de vacinação, a Itália enfrenta um momento delicado na pandemia, com tendência de alta nas médias de casos e óbitos e uma das maiores taxas de mortalidade por Covid-19 em todo o mundo.

O país chegou a realizar eleições regionais e municipais em setembro passado, mês em que o número diário de mortes não chegava a 30.

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