As críticas feitas pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, ao que chamou de "fascismo crescente" na Itália, não geraram reações do governo em Roma nesta sexta-feira, 20. Ao defender a confirmação do status de refugiado político ao ex-guerrilheiro de extrema esquerda Cesare Battisti, na última quinta-feira, 19, o brasileiro fez críticas à segmentos conservadores da população italiana.
"A Itália não é um país nazista nem fascista, mas vem sendo constatado um crescimento preocupante do fascismo em parte da população italiana", afirmou, citando uma das razões pelas quais, entende Tarso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve confirmar seu parecer favorável à permanência de Battisti no Brasil, contrariando a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
Os principais líderes políticos italianos não se manifestaram sobre o tema. O silêncio foi a resposta do presidente, Giorgio Napolitano, do premiê, Silvio Berlusconi, e do ministro das Relações Exteriores, Franco Frattini. O único representante do Executivo a falar em público sobre o assunto foi o ministro da Defesa, Ignazio La Russa, ao ser questionado por jornalistas. "Genro é livre para expressar suas opiniões, como fazemos aqui na Itália", ironizou, em uma resposta paradoxal. Em governos fascistas, a liberdade de expressão é limitada. La Russa ainda completou seu comentário sobre Tarso: "Parabéns."
Outra autoridade pública a se manifestar, desta vez do Legislativo, foi o presidente do Senado, Maurizio Gasparri. "A amizade entre a Itália e o Brasil é tal que podemos ignorar mais uma vez a patetice dita pelo senhor Genro", replicou.
Ainda que soe agressiva, as críticas ao suposto viés fascista do governo de Silvio Berlusconi, formado em coalizão com o partido de extrema direita Liga Norte, não são exclusividade de Tarso. Quando da análise do processo de extradição de outra ex-guerrilheira, Marina Petrella, na França, em 2008, um dos argumentos usados pelos defensores do refúgio político era o conservadorismo do governo italiano. Durante a campanha por sua permanência em Paris, intelectuais como o filósofo Bernard-Henri Lévy fizeram referências ao extremismo crescente da sociedade italiana.