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M5S altera estatuto e se aproxima da “política tradicional italiana”

Os eleitores inscritos no partido antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S), dono da maior bancada no Parlamento da Itália, aprovaram duas mudanças que o aproximam do establishment no país.

A primeira é a possibilidade de prefeitos da sigla exercerem três mandatos consecutivos em cargos públicos, enquanto a segunda é a possibilidade de se coligar com os ditos “partidos tradicionais” em eleições municipais.

Fundado pelo cômico Beppe Grillo e pelo consultor Gianroberto Casaleggio (1954-2016) em 2009, o M5S tinha como pilares a proibição de seus membros exercerem mais de dois mandatos políticos seguidos e a repulsa a alianças com o establishment.

A primeira norma já havia sido revista em 2019, quando o movimento criou o chamado “mandato zero” para vereadores, permitindo que seus candidatos disputassem uma segunda reeleição nas assembleias legislativas municipais.

A flexibilização não valia para cargos executivos, mas 80,1% dos 49 mil votantes aprovaram uma regra que permitirá a prefeitos do M5S exercerem três mandato consecutivos. A nova medida adapta o estatuto do partido para defender a candidatura da prefeita de Roma, Virginia Raggi, que foi vereadora antes de exercer o cargo e, portanto, não poderia disputar a reeleição pelo movimento.

“Obrigado a todos pelo apoio e encorajamento”, disse Raggi logo após a divulgação do resultado da votação. Ela confirmou que disputará novamente a Prefeitura de Roma no ano que vem. Já a aprovação das alianças com partidos tradicionais em eleições municipais obteve percentual menor, 59,9%.

As duas votações foram realizadas na plataforma Rousseau, ferramenta de democracia direta do movimento e que não é auditada de forma independente.

Alianças

O discurso do M5S de não se aliar à política tradicional sofreu o primeiro golpe em junho de 2018, quando o partido se juntou à legenda de extrema direita Liga, aliada histórica de Silvio Berlusconi, para chegar ao governo.

A coalizão durou pouco mais de um ano e, após o então ministro do Interior Matteo Salvini retirar o apoio da Liga ao premiê Giuseppe Conte, o M5S fez um giro de 180 graus e se aliou ao Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, com quem governa até hoje. M5S e PD tentaram reproduzir a coalizão nas eleições regionais na Úmbria, em outubro de 2019, mas acabaram derrotados pela Liga. Agora, no entanto, o movimento poderá se aliar aos “partidos tradicionais” também em pleitos municipais.

“Começa uma nova era para o Movimento 5 Estrelas. Incluir e agregar serão os caminhos, respeitando sempre nossos valores”, comentou o ministro das Relações Exteriores, Luigi Di Maio, principal expoente político do M5S.

Partido mais votado nas eleições legislativas de março de 2018, com mais de 30% das preferências, o movimento viu sua popularidade despencar ao longo dos últimos dois anos, perdendo tanto eleitores progressistas (por causa da aliança com a Liga) quanto eurocéticos e nacionalistas (devido à coalizão com o PD).

Hoje o M5S aparece em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, atrás justamente da Liga e do Partido Democrático.

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