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Mafioso libertado na Itália pede desculpas às famílias de vítimas

Em um vídeo inédito, o mafioso italiano Giovanni Brusca, um dos assassinos mais famosos da máfia Cosa Nostra libertado no dia 31 de maio após 25 anos, pede desculpas aos familiares de suas vítimas.

Condenado por matar mais de 100 pessoas, incluindo um menino de 11 anos, que dissolveu seu corpo em ácido, “o porco” foi também responsável por detonar o explosivo que matou o juiz italiano Giovanni Falcone, considerado um dos maiores heróis da luta contra a máfia na Itália.

“Refleti e resolvi lançar esta entrevista. Não sei aonde isso me levará, o que vai acontecer, só espero ser compreendido”, diz ele. “Decidi chegar a um acordo comigo mesmo, porque chegou a hora de colocar minha cara nisso, mesmo que eu não possa por razões de segurança, mas é no espírito e na alma [que a intenção nasceu ] para fazer isso”.

Na gravação feita há cinco anos pela TV Arte France e publicada somente hoje no site do jornal italiano “Corriere della Sera”, o mafioso do clã siciliano aparece usando um óculos escuro e com o restante do rosto coberto com uma touca, “para poder pedir desculpas, perdão, a todas as famílias das vítimas”, às quais criou “tanta dor e tristeza”.

Brusca, de 64 anos, deixou a penitenciária de Rebibbia em Roma na noite de segunda-feira, 45 dias antes de sua pena expirar, mas terá que respeitar quatro anos de liberdade condicional.

Ao longo dos 25 anos em que ficou detido, o criminoso já havia pedido desculpas aos familiares de suas vítimas em outras ocasiões, especialmente durante os julgamentos, quando decidiu colaborar com a justiça italiana.

Em fevereiro de 2019, inclusive, ele pediu “perdão a todas as vítimas da máfia”. “Tenho tentado (nos últimos anos como colaborador da justiça) dar a minha contribuição, tanto quanto possível, e dar o mínimo de explicação aos tantos que procuram a verdade e a justiça”, afirma Brusca na entrevista.

“Peço desculpa principalmente a meu filho e minha esposa, que sofreram por minha causa e estão pagando até indiretamente pelo que foram minhas escolhas de vida: primeiro como mafioso, depois como colaborador da justiça, porque infelizmente em nosso país quem colabora com a justiça é sempre denegrido, é sempre desprezado”, ressaltou.

Por fim, Brusca enfatizou que acredita que ajudar as autoridades “é uma escolha de vida muito importante, moral, judicial mas sobretudo humana”.

Repercussão:

A libertação de Brusca tem provocado polêmica e revolta na Itália, causando angústia entre parentes das vítimas da máfia Cosa Nostra.

Maria Falcone, irmã do magistrado assassinado e presidente da Fundação Giovanni Falcone, afirmou que nos últimos dias tem “evitado a exposição excessiva da mídia e declarações iradas, respeitando uma lei que foi e continua a ser fundamental na guerra contra a Cosa Nostra, mas ninguém pode estar mais magoado e indignado do que ela perante a libertação de uma das piores pessoas que a história do país já conheceu”.

“Ouvi muitas declarações de políticos e assisti a uma onda de indignação da opinião pública que mostra o quanto mudou a consciência dos nossos concidadãos nestes 29 anos”, disse ela.

Falcone aproveitou a Festa da República e fez um apelo para o governo aprovar rapidamente a reforma da lei da prisão perpétua pedida pelo Tribunal Constitucional.

“No próximo dia 23 de maio, 30 anos terão se passado desde o atentado em que perderam a vida meu irmão Giovanni, sua esposa Francesca, Antonio, Vito e Rocco. Será o momento em que resumiremos a ação da política na luta contra a máfia”, finalizou.

Segundo o líder do partido Democrático (PD), Enrico Letta, a decisão da justiça “é um soco no estômago que deixa você sem fôlego”.

O ex-ministro do Interior da Itália Matteo Salvini, por sua vez, também defendeu uma atualização na lei e ressaltou que “quem dissolveu uma criança em ácido não pode andar livre como se nada tivesse acontecido”.

“Saber que hoje, no Dia da República, até um criminoso, assassino, mafioso e desprezível personagem como Brusca anda livre sorridente, não pode ser a ideia de justiça que temos em mente”, disse o líder do partido de extrema direita Liga. “Ele deve ficar na prisão até o fim de seus dias sem descontos e sem atalhos”

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