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Número de imigrantes brasileiros na Itália quase dobra desde 2019

A estudante Ana Lais Scarpa estava um dia na fila do supermercado em Arzignano, cidade de 25 mil habitantes no norte da Itália, onde mora, quando ouviu algo familiar.

“Tinha uma mulher falando português. Esperei ela terminar e brinquei: ‘Nossa, tem muito brasileiro por aqui, né?!’ Isso já aconteceu várias vezes”, conta ela.

Ana se mudou para lá em setembro do ano passado, para trabalhar como babá e dar entrada no seu pedido de cidadania italiana — seu trisavô, no caminho inverso, emigrou da Itália para o Brasil no final do século 19.

A vontade de fazer isso bateu quando a pandemia começou. Ela decidiu que não queria mais em Belo Horizonte, onde estudava Nutrição na Universidade Federal de Minas Gerais. O gosto por viajar e conhecer novas culturas se somou à falta de perspectiva.

“Ia me formar, ganhar pouco, sem muitas chances de crescer”, diz a estudante de 22 anos, que hoje cursa Economia de forma gratuita, por ser italiana e ter uma renda baixa.

“O que me atraiu na Itália foi a possibilidade de estar aqui como cidadã, com todos os direitos. E aqui tem muita oportunidade e qualidade de vida. Tem problema também, mas não como o Brasil, onde a situação está ruim agora. Está tudo muito difícil, ainda mais para quem é jovem.”

Em Arzignano, ela conheceu vários outros brasileiros que também trocaram o Brasil pela Itália.

“A maioria dos estrangeiros aqui são indianos, mas a gente brinca que os brasileiros estão quase superando os indianos”, diz Ana.

A experiência dela se reflete nos números oficiais do governo brasileiro.

O levantamento mais recente do Itamaraty mostra que quase dobrou em dois anos o tamanho da comunidade brasileira na Itália, onde o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) participa no final de semana de uma reunião do G20.

Em 2018, 85,7 mil brasileiros viviam no país e, em 2020, eram 161 mil, um aumento de 88%.

Os números são uma estimativa do Ministério de Relações Exteriores que leva em conta os registros dos consulados brasileiros, dados de outros órgãos nacionais, como a Receita Federal, e informações de autoridades italianas.

Ou seja, na prática, os números podem ser ainda maiores.

É verdade que esse fenômeno não se restringe à Itália. Muita gente se mudou do Brasil nesse período.

O número de brasileiros no exterior passou de 3,59 milhões para 4,22 milhões, quase 18% a mais. Em comparação com 2015, quando a tendência de alta começou, o aumento foi de 54% até 2020.

Mas a Itália foi um dos principais destinos dos recentes imigrantes brasileiros. Em 2018, o país tinha a 11ª maior comunidade brasileira no mundo. Em 2020, a 6ª.

Os relatos à reportagem de vários profissionais que trabalham ajudando brasileiros no processo de imigração também mostram isso.

“Comecei a sentir esse aumento entre o final de 2018 e o início de 2019 e, em 2020, explodiu e ficou ainda mais forte neste ano”, afirma Anna Katarina Vieira, advogada especializada em processos de cidadania.

Ela diz que a crise econômica que o Brasil atravessa é um dos motivos. Muitas pessoas perderam o emprego e decidiram tentar uma nova vida lá fora.

A pandemia e a restrição de entrada em muitos países imposta aos brasileiros também fizeram muita gente voltar a tocar o processo de cidadania para ter um passaporte alternativo para viajar.

“Mas a maioria dos meus clientes são pais que querem que os filhos tenham a oportunidade de estudar na Europa”, conta.

A advogada Ana Paula Dias Marques, especializada em imigração, também percebeu uma maior procura pelos seus serviços.

“Acho que tem a ver com a pandemia e com a crise que o país atravessa. Quando a pessoa vê que a crise vai demorar a passar, que o Brasil vai levar um tempo para se recuperar, ela tenta começar uma vida em outro lugar”, afirma.

Por Rafael Barifouse – da BBC News Brasil em São Paulo.

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