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POLÍTICA: Eleições expõem divergências na extrema direita italiana

As eleições municipais de 2021 na Itália expuseram as divergências na coalizão de direita que governa mais da metade das regiões do país e tem quase 50% das intenções de voto em âmbito nacional.

A aliança de “centro-direita” – como é chamada pelos jornais italianos – é formada por dois partidos ultranacionalistas e um conservador moderado e esperava manter a onda de vitórias iniciada em 2018.

No entanto, das seis capitais regionais que foram às urnas entre 3 e 4 de outubro, a coalizão de direita chegou no segundo turno apenas em três (Roma, Turim e Trieste), sendo que é favorita somente na última.

Por outro lado, candidatos de centro-esquerda foram eleitos ou reeleitos como prefeitos em primeiro turno em Milão, Bolonha e Nápoles, além de ser os mais cotados à vitória no segundo turno em Roma e Turim.

O resultado abaixo do esperado desencadeou um processo público de lavagem de roupa suja na coalizão conservadora, que é majoritária em âmbito nacional, mas também abriga uma intensa disputa interna para encabeçar a aliança.

“Uma reflexão, sem inventar desculpas: se metade dos cidadãos escolhe não votar, certamente não é culpa deles, é culpa nossa. De nossos erros, nossas brigas e nossos atrasos. Que sirva de lição para mim e para nós”, escreveu no Facebook o senador e líder do partido de ultradireita Liga, Matteo Salvini.

Desde março de 2018, quando foi alçado ao cargo de ministro do Interior no primeiro governo de Giuseppe Conte, Salvini é o líder inconteste da coalizão, mas nos últimos meses vem sofrendo uma crescente pressão de sua aliada-rival Giorgia Meloni, deputada e presidente do partido Irmãos da Itália (FdI), que está à direita da própria Liga no espectro político e já aparece na frente na maioria das pesquisas nacionais.

O terceiro braço dessa aliança é o moderado Força Itália (FI), do ex-premiê Silvio Berlusconi, cada vez mais relegado ao papel de força acessória da extrema direita. Em cidades como Roma, a lista de vereadores do FdI recebeu até o triplo de votos da Liga.

“Não estamos falando de uma derrota, mas de uma ótima afirmação do FdI, a qual pretendo reivindicar”, declarou Meloni, que aspira a desbancar Salvini do comando da coalizão e tornar-se primeira-ministra no caso de eleições antecipadas.

O plano de Meloni já está traçado: convencer os outros partidos a votar em Mario Draghi para presidente da República no início do ano que vem, o que deixaria o governo vago e abriria caminho para uma possível ida às urnas já em 2022, embora as eleições nacionais estejam previstas apenas para 2023.

“A centro-direita está de acordo sobre o fato de que Mario Draghi seria um bom presidente da República e que, neste caso, poderíamos ter eleições imediatamente. Ou alguém pensa que podemos eleger Draghi para presidente e colocar outra pessoa no governo sem passar pelo voto dos cidadãos?”, disse a deputada.

Meloni, no entanto, foi desmentida rapidamente por fontes do Força Itália, que negaram a existência de qualquer acordo para colocar o atual premiê na chefia do Estado. O próprio Salvini, acossado pela ascensão de Meloni, não quer falar em antecipar eleições.

“Hoje me ocupo de evitar aumentos de impostos. Todos falam de eleição para presidente da República, que será em fevereiro, mas estamos no começo de outubro. O que vai acontecer em fevereiro nós veremos mais para frente”, disse o senador.

Demora

De acordo com Salvini, a derrota nas grandes cidades foi causada pela demora da direita em apontar seus candidatos, já que houve muitas divergências entre os três partidos.

Em Roma, a coalizão apontou seu postulante a prefeito, Enrico Michetti, bancado por Meloni, apenas em junho, enquanto Roberto Gualtieri, do Partido Democrático (PD), venceu as primárias da centro-esquerda no mesmo mês, mas havia anunciado sua pré-candidatura já em março.

Michetti vai para o segundo turno na liderança, com 30,14%, mas Gualtieri (27,03%) é favorito à vitória, de acordo com todas as pesquisas de intenção de voto. Já em Milão, os conservadores candidataram o desconhecido pediatra Luca Bernardo apenas em julho, e ele acabou perdendo de lavada para o prefeito Giuseppe Sala, reeleito com quase 58% dos votos.

Oposição

A ascensão de Meloni nos últimos meses pode ser explicada pelo fato de o FdI ser o único grande partido de oposição ao governo Draghi, concentrando em si o apoio de descontentes que vão desde desempregados e autônomos afetados pela pandemia até grupos antivacinas.

Já Salvini e a Liga, que nadaram de braçada no campo conservador até 2020, agora enfrentam dificuldades para manter o discurso populista enquanto fazem parte do Executivo. Após o resultado das eleições, o partido já boicotou uma reunião do Conselho dos Ministros sobre um projeto de reforma fiscal.

“É, por si só, um gesto grave, mas precisamos esperar o que diz a Liga para saber suas implicações”, disse Draghi em coletiva de imprensa. Já Salvini alegou que os ministros da Liga tiveram pouco tempo para ler o texto, mas negou uma crise de governo.

“Não há nenhum rompimento, pedimos apenas clareza. O governo deve esclarecer que não é o momento de aumentar impostos”, declarou o senador

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