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Premiê da Itália sera ouvido em inquérito sobre pandemia

MP de Bergamo investiga não instituição de 'zona vermelha'

O Ministério Público de Bergamo, no norte da Itália, convocará o premiê Giuseppe Conte a depor como “testemunha informada sobre os fatos” em um inquérito sobre a disseminação do coronavírus Sars-CoV-2.

Também serão ouvidos os ministros da Saúde, Roberto Speranza, e do Interior, Luciana Lamorgese. Os procuradores cogitam fazer a audiência em Roma e querem saber por que não foi instituída uma “zona vermelha” nas cidades de Nembro e Alzano Lombardo, primeiros focos de contágio na província de Bergamo.

O MP já registrou, na semana passada, os depoimentos do governador da Lombardia, Attilio Fontana, e do secretário de Bem-Estar Social da região, Giulio Gallera, também ouvidos como “testemunhas informadas sobre os fatos”.

Na ocasião, Fontana foi recebido na sede do Ministério Público de Bergamo sob protestos e disse que a decisão de instituir uma “zona vermelha” cabia ao governo da Itália.

Assim que as autoridades descobriram os primeiros casos de transmissão interna do Sars-CoV-2 no país, no fim de fevereiro, o governo italiano transformou 11 cidades, sendo 10 na Lombardia e uma no Vêneto, em “zonas vermelhas”, com bloqueios para impedir a entrada e saída de pessoas e até toque de recolher.

A mesma medida, no entanto, não foi tomada em Nembro e Alzano Lombardo, também na Lombardia. As duas cidades só entraram em quarentena em 9 de março, com o restante da região, e as outras partes do país começaram o lockdown no dia seguinte.

O sistema de “zona vermelha”, revogado nas 11 cidades com o início da quarentena nacional, tinha regras mais rígidas do que as que vigoraram até meados de maio em toda a Itália. O lockdown dos últimos meses permitia a saída de casa por motivos de trabalho, para comprar alimentos e até para se exercitar, e nunca houve um toque de recolher que cobrisse todo o território italiano.

“Dia D”

A notícia sobre o depoimento de Conte chega no “Dia D” criado por um comitê de familiares de vítimas para apresentação de denúncias relativas à gestão da pandemia.

O grupo se chama “Noi Denunceremo” (“Nós Denunciaremos”) e reúne mais de 57 mil pessoas em sua página no Facebook, que agrega histórias de indivíduos que perderam entes queridos para a Covid-19.

Cerca de 50 denúncias foram levadas ao Ministério Público de Bergamo pelo fundador do comitê, Luca Fusco, e por familiares de vítimas. As ações citam a suposta falta de informações para os pacientes e parentes sobre os riscos de infecção, especialmente no início da pandemia; a ausência de dispositivos de proteção em hospitais; e a escassez de médicos para a gestão domiciliar de pacientes sem necessidade de internação.

Além disso, questionam as decisões de não fechar o hospital de Alzano Lombardo e de não instituir um lockdown imediato no Vale Seriana, onde fica a cidade. “Queremos buscar a verdade sobre o que aconteceu na Lombardia – mas não apenas – para identificar os responsáveis e obter justiça”, disse Fusco.

Segundo ele, há “responsabilidades políticas” nas mortes provocadas pela pandemia. “Nós, bergamascos, viajamos, trabalhamos, tomamos café e drinks enquanto o vírus circulava sem problemas. Estou convencido de que, se tivessem instituído imediatamente uma zona vermelha na província de Bergamo, não teríamos de fechar toda a Lombardia”, acrescentou.

Fusco, no entanto, evitou apontar culpados. “Isso é responsabilidade do Ministério Público, com um inquérito que deve ser longo e difícil”, declarou. O fundador do grupo Noi Denunceremo perdeu o pai para a Covid-19 em março e sequer pôde realizar um velório.

O corpo foi enviado para longe da cidade, e a família só recuperou a urna com as cinzas mais de 20 dias depois. Bergamo é a quarta província com mais casos na Itália em termos absolutos, com 13,7 mil, atrás de Milão (23,5 mil), na Lombardia, Turim (15,7 mil), no Piemonte, e Brescia (15,1 mil), também na Lombardia.

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