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Maior corte desde 2ª Guerra põe em risco recuperação da Europa

Os cinco maiores países da União Europeia (Alemanha, França, Grã-Bretanha, Espanha e Itália) cortarão, juntos, cerca de 375 bilhões de euros em gastos públicos para tentar reduzir seus elevados déficits.

Mas as medidas de austeridade orçamentária, as mais expressivas desde a Segunda Guerra Mundial, poderão comprometer, na avaliação de especialistas, as tímidas perspectivas de retomada do crescimento econômico no continente.

“Os planos de rigor fiscal na Europa ocorrem no pior momento”, afirma Jean-Paul Fitoussi, presidente do Observatório Francês de Conjunturas Econômicas. “Eles arriscam reduzir um crescimento que já é baixo e de comprometer as perspectivas em 2011”, afirma.

Dados relativos ao primeiro trimestre deste ano – os últimos disponíveis, divulgados em julho – indicam que o PIB da zona do euro aumentou 0,2% em relação ao trimestre anterior e 0,6% na comparação anual, segundo a Eurostat.

O melhor desempenho foi da Itália, que registrou aumento de 0,5% em relação ao trimestre anterior, de acordo com a agência de estatísticas da União Europeia.

Na Espanha, que anunciou a redução de 5% dos salários dos funcionários públicos e a diminuição de benefícios sociais, entre outras iniciativas, as medidas já entram em vigor neste ano. Nas outras grandes economias do bloco, os cortes serão implementados a partir de 2011.

Para Benjamin Carton, economista do Cepii (Centro de Estudos Prospectivos e de Informações Internacionais), em Paris, os países do “eixo duro”, que adotaram as medidas mais drásticas, de redução dos salários dos funcionários públicos, como a Grécia, a Espanha e Portugal, sofrerão “um impacto negativo muito forte sobre seu crescimento econômico”.

“A medida era necessária porque tem efeitos imediatos sobre o déficit público e acalma as pressões exercidas pelos mercados, mas pesará sobre o consumo interno e representa um entrave ao crescimento econômico”, disse Carton à BBC Brasil.

O economista prevê que o impacto, no caso desses três países que anunciaram a redução dos salários do funcionalismo, será o “prolongamento da recessão”, que poderá retardar a retomada do crescimento econômico até 2012.

Os planos anunciados pelas maiores economias europeias levaram os economistas do banco Goldman Sachs a ampliar suas estimativas sobre o impacto negativo que essas restrições orçamentárias deverão ter sobre o crescimento econômico.

“Estimamos agora que, na zona do euro, essas medidas vão amputar o crescimento de 0,2 a 0,4 pontos percentuais do PIB em 2010 e 2011”, afirma a economista Natacha Valla, do Goldman Sachs.

A previsão anterior, realizada em junho, previa um impacto negativo de 0,1 a 0,3 pontos percentuais no período 2010-2012.

O banco prevê que o crescimento na zona euro será de 1,4% neste ano e de 2,2% em 2011.

A Alemanha aprovou cortes drásticos de 80 bilhões de euros até 2014. A Grã-Bretanha, que não integra a zona do euro, anunciou um orçamento de emergência que prevê a redução de 84 bilhões de libras em gastos públicos (cerca de 100 bilhões de euros) nos próximos quatro anos e também o aumento dos impostos para reduzir o déficit dos atuais 10,1% do PIB para 1,1% no prazo de cinco anos.

A França, com um déficit público que poderá ultrapassar 8% do PIB neste ano, assumiu o compromisso de reduzi-lo para 3% do PIB em 2013, diminuindo seu déficit em 100 bilhões de euros até 2013.

A França é o único país que aposta em um crescimento econômico na faixa de 2,5% para aumentar suas receitas e reduzir seu déficit público. Dos 100 bilhões de euros que o governo espera obter até 2013, a metade viria da diminuição das despesas e a outra metade do aumento da arrecadação decorrente da expansão da atividade econômica.

A Grécia deu início a uma crise de confiança nos mercados que obrigou os países ricos a adotar medidas de austeridade e colocou outras economias menores, como Portugal, no olho do furacão.

Os temores de contágio da deterioração das finanças públicas dos países europeus vêm afetando o euro, que apesar de uma leve recuperação nos últimos dias, já acumula, desde o início do ano, uma desvalorização de quase 10%.

A queda do euro poderá estimular as exportações europeias e ter um impacto positivo sobre o crescimento econômico de até um ponto percentual no PIB, estima a economista Natacha Valla, do banco Goldman Sachs.

Apesar do possível impacto negativo sobre o crescimento econômico, os pacotes de austeridade também incluem efeito positivos, como o de interromper imediatamente a escalada dos juros que estavam sendo cobrados nos empréstimos a longo prazo de alguns países, afirmam especialistas.

Além disso, os planos de aumentar a idade mínima para aposentadoria, anunciados por países como a França e a Espanha, “não têm efeito imediato nas contas públicas, mas reduzem a dívida a longo prazo. Isso tranquiliza os mercados em relação à solvência dos Estados”, diz Carton, do Cepii.

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