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Novo romance do italiano Alessandro Baricco apresenta dilema entre fé e descrença de quatro jovens

“A Paixão de A.”, novo livro do italiano Alessandro Baricco (tradução de Roberta Barni, Companhia das Letras), apresenta quatro jovens de 16, 17 anos na Turim dos anos 1970. Os garotos compartilham as crenças e o estilo de vida – são todos católicos de famílias de classe média, têm uma banda que toca na igreja aos domingos e fazem trabalhos voluntários num hospital de idosos. São acostumados aos preceitos religiosos e à fé cega, sem questionamentos. “Acreditamos, e não parece haver outra possibilidade.”

Isso até que a bela, jovem e misteriosa André cruzar suas vidas. “Ela é especialmente bonita, e sem querer. Tem um quê de masculino. Uma dureza. Isso facilita as coisas para nós – somos católicos: a beleza é uma virtude moral e não tem nada a ver com o corpo.”

Mais do que uma paixão juvenil que parece envolver os quatro amigos ao mesmo tempo, e na mesma intensidade, André é a personificação do oposto. Seduzidos por ela, os garotos se vêem envolvidos numa série de episódios que mudará seus rumos para sempre, separando suas vidas de maneira trágica. O texto que começa na primeira pessoa do plural, como se o grupo fosse uma mesma pessoa, passa à primeira do singular – numa interessante transição narrativa à maturidade.

A prosa literária de Baricco é primorosa, e justifica o lugar do autor entre os mais vendidos da Itália e um dos mais traduzidos entre os italianos contemporâneos. Baricco, que no Brasil já esteve na lista dos best seller com Seda (também Companhia das Letras), traça sua teia narrativa de forma a espelhar naquela paixão juvenil o antigo embate entre fé e descrença.

Os protagonistas da história acreditam, mas não deixam de duvidar. São inconformados, mas obedientes. Seguem o caminho óbvio que lhes é apresentado, mas não deixam de acreditar em outra realidade. “É claro que vamos para a escola, todos os dias. Mas essa é uma história de degradação aviltante e de humilhações inúteis. Não tem nada a ver com aquilo que queremos chamar de ‘vida’.”

André é para aqueles garotos a materialização do proibido e do inalcançável. Até mesmo a tragédia que parece naturalmente cercar sua vida  é para o grupo uma prova de distanciamento de suas vidas pacatas, marcadas pela temperança, pelo equilíbrio, pelo meio termo.

“Herdamos a incapacidade para a tragédia e a predestinação para a forma menor do drama: porque nas nossas casas não se aceita a realidade do mal, e isso adia ao infinito qualquer desdobramento trágico, deflagrando a longa onda de um drama comedido e permanente – o pântano em que crescemos.”

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