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Símbolo de revolta antissistema, M5S despenca em eleições

Apenas 12 meses depois de ter conquistado o governo da Itália, o partido antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S) vive o momento mais difícil de seus cerca de 10 anos de história.

A sigla fundada pelo comediante Beppe Grillo e liderada pelo jovem vice-premier Luigi Di Maio conquistou apenas 17,06% dos votos nas eleições para o Parlamento Europeu e ficou atrás de sua aliada de governo, a ultranacionalista Liga, com 34,26%, e até do centro-esquerdista Partido Democrático (PD), que parecia em franca derrocada, com 22,73%.

Em números absolutos, os quase 4,6 milhões de votos no M5S representam menos da metade dos cerca de 10 milhões recebidos nas eleições legislativas de março de 2018, quando, com um apoio avassalador no sul da Itália, o partido se tornou o mais popular do país e ganhou o direito de liderar o governo.

O biênio entre 2016 e 2018 foi o período de ouro do movimento: mesmo sem fazer alianças, conquistou as prefeituras de Roma e Turim, primeira e quarta maiores cidades italianas, e se cacifou para assumir o governo nacional.

Após fechar uma aliança com a Liga, em maio de 2018, Luigi Di Maio chegou a decretar o início da “Terceira República”, um período onde as negociatas políticas ficariam para trás em prol dos cidadãos, mas a coalizão beneficiou apenas o outro lado da moeda.

Em um clima de campanha eleitoral permanente, o ministro do Interior e também vice-premier da Itália, Matteo Salvini, conseguiu fazer o governo dar uma guinada à direita com sua cruzada antimigrantes e eclipsou o M5S, que viu suas promessas de benefícios sociais esbarrarem na delicada situação econômica do país.

Além disso, o movimento pagou o preço de uma de suas principais características: o M5S sempre pregou estar acima da disputa esquerda-direita e, de fato, colheu votos nos dois campos do espectro político, mas a aliança com a Liga teve um custo caro entre o eleitorado progressista – não foram poucos os que defenderam uma aliança de governo com o PD, não com Salvini.

“Agradeço aos 4,5 milhões que votaram no M5S e agradeço também àqueles que não nos votaram, porque seu comportamento nos ensina uma bela lição. Cumprimento a Liga, o PD e todos os partidos que cresceram”, disse Di Maio nesta segunda-feira (27), em uma coletiva de imprensa para explicar a derrota de domingo.

Pressão – O vice-premier de 32 anos está sob pressão. Primeiro, da ala do M5S mais identificada com pautas de esquerda, liderada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Roberto Fico, que comprou brigas com a Liga ao longo de um ano de governo e pode voltar a se sentir à vontade para se desmarcar das posições do partido.

Em sua coletiva desta segunda, Di Maio já teve de explicar que não ouviu de Fico nem dos donos do partido, Grillo e o empresário e consultor de internet Davide Casaleggio, nenhum pedido para renunciar. Já a outra pressão virá da própria Liga, que terá mais força para impor sua agenda ao governo, apesar de ter menos votos no Parlamento.

As eleições europeias mostraram que, além dos 34,26% da legenda de Salvini, os partidos Força Itália (FI), de centro-direita, e Irmãos da Itália (FDI), de extrema direita, conquistaram, respectivamente, 8,78% e 6,45% dos votos. Juntas, as três legendas, que já são aliadas em governos regionais e municipais, teriam 49,49%, provavelmente o bastante para obter maioria confortável em caso de eleições antecipadas, já que um terço dos assentos é definido em disputas majoritárias.

“Salvini deve decidir se vai escutar aquilo que disseram os italianos com seu voto nas eleições europeias, ou seja, que outra coalizão é possível”, afirmou a presidente do FDI, Giorgia Meloni. Nesse contexto, a única arma de barganha do M5S seria uma improvável aliança com o PD, que garantiria maioria no Parlamento e evitaria eleições antecipadas, mas Di Maio já deu mostras de que removerá os obstáculos a propostas da Liga, como o trem-bala entre Turim e Lyon e aumentar a autonomia fiscal das regiões.

“O TAV [trem de alta velocidade] é um assunto que está nas mãos de [Giuseppe] Conte. Sobre a autonomia, a única coisa que me interessa é trabalhar para manter as promessas feitas aos italianos”, disse o vice-premier.

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