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Renúncia de Bento XVI sugere controle da sucessão

O impactante anúncio da renúncia de Bento 16, por mais surpreendente que seja para o mundo católico, é fiel ao estilo de Joseph Ratzinger. O papa alemão pode ser criticado por vários motivos, mas certamente inconstância não é um deles.

Desde que assumiu a igreja após a morte de João Paulo 2º em 2005, Bento sempre deixou claro que seu mandato seria breve. A saúde já fragilizada e a idade avançada apontavam um papado de poucos anos, focado na tentativa de fazer uma igreja de menos e melhores fiéis.

O próprio Bento respondeu à pergunta sobre a renúncia. "Sim. Se um papa tiver claro para si que não é mais capaz fisicamente, psicologicamente e espiritualmente de cuidar das atribuições de seu ofício, então ele tem o direito e, sob algumas circunstâncias, também a obrigação de renunciar", escreveu.

Clara estava a memória do calvário público de seu antecessor, que definhou ao longo dos anos sob os holofotes. Ratzinger, que foi o ideólogo da guinada conservadora de Roma sob João Paulo 2º, não desejou destino semelhante.

E mais: ao renunciar com dia e hora marcada, o papa ganha enorme influência sobre o processo de escolha de seu sucessor. Além de ter criado uma composição mais europeia do colégio de cardeais, o órgão que, reunido em conclave, escolhe o novo papa, o simples fato de ele estar por perto irá orientar a mudança.

Ninguém hoje tem a autoridade moral e teológica de Ratzinger, embora seu poder temporal sobre a igreja tenha sido grandemente esvaziado nos anos finais do papado.

Resta contudo saber qual será essa orientação. Nos últimos anos, cresceu muito a especulação de que um nome latino-americano ou africano seria o próximo a ser escolhido, mas o papado de Bento 16 priorizou uma certa organicidade na Cúria Romana, com cardeais italianos em posição de grande força –como era a tradição até o polonês Karol Wojtyla virar pontífice em 1978.

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