
A moda italiana está em polvorosa. Lorenzo Bertelli, herdeiro da Prada e filho mais velho de Miuccia Prada e Patrizio Bertelli, deve assumir o comando executivo da Versace após a conclusão da aquisição bilionária anunciada em abril. Ele próprio confirmou a informação em entrevista exclusiva ao podcast italiano da Bloomberg, Quello Che i Soldi Non Dicono.
“Quando perguntamos sobre o alcance global da Versace, ela sempre está entre os cinco principais nomes que surgem no mundo todo”, afirmou Bertelli, de 37 anos. “A marca é muito maior do que seu faturamento atual, e estamos sempre prontos para missões difíceis, como tentar trazer o negócio de volta à grandeza da marca.”
A Prada surpreendeu o mercado ao fechar a compra da Versace por cerca de € 1,25 bilhão (R$ 7,7 bilhões) — a maior aquisição em seus 112 anos. O movimento adiciona uma estética radicalmente diferente ao portfólio da casa milanesa e inaugura um novo capítulo na disputa com gigantes globais como LVMH e Kering.
Aposta ousada: resgatar um ícone em declínio
Apesar do brilho histórico, a Versace enfrenta uma fase desafiadora: vendas em queda, prejuízos operacionais e uma identidade criativa fragilizada após anos de tentativas frustradas de modernização. A marca perdeu 20% do faturamento no ano passado, enquanto a estratégia da Capri Holdings — que a adquiriu em 2018 — de elevar preços e suavizar o maximalismo icônico não conquistou o público mais jovem.
Para a Prada, porém, trata-se de uma “escolha estratégica”. Bertelli afirma que a experiência acumulada com o renascimento da Miu Miu — hoje queridinha da Geração Z e responsável por um salto de 93% nas vendas de varejo em 2024 — será fundamental na operação de resgate.
A consolidação também carrega um simbolismo importante: fortalece um grupo italiano num cenário cada vez mais dominado por conglomerados estrangeiros. A aquisição da Versace, que fatura cerca de US$ 821 milhões anuais, pode transformar a Prada em uma das maiores potências de luxo do país.
Desafio monumental
Especialistas, no entanto, soam o alarme. “Ressuscitar as glórias do passado exige tempo, dinheiro e não é garantido”, disse Luca Solca, analista da Bernstein, à Bloomberg. Segundo ele, a Versace está superexposta ao atacado, tem pouca disciplina de preços e opera com lojas próprias pouco competitivas.
Ainda assim, Solca ressalta que o mercado já precificou os prejuízos contínuos da marca nas ações da Prada — e o grupo pode se dar ao luxo de ser paciente. A estabilização recente do setor de luxo, com sinais de retomada em grupos como LVMH e Burberry, também ajuda.
“Com as transições geracionais, tendemos a viver de forma mais distanciada, considerando os prós e os contras”, disse o herdeiro. “Um dos prós é poder observar o negócio e o setor de forma mais distante e tomar decisões mais conscientes.”
Se depender do novo comandante, a missão de devolver brilho ao nome Versace já começou — e promete movimentar profundamente o mapa global do luxo.



