
Como há quase dois séculos e meio, a abertura da temporada 2025/2026 do lendário Teatro alla Scala, uma das mais cobiçadas casas de ópera do mundo, voltou a transformar a cidade em um espetáculo de cultura e glamour. E também em termômetro político e social. Palco de estreias de Verdi e Puccini e símbolo absoluto da música clássica, o Alla Scala reafirmou por que sua noite inaugural é, desde 1778, o evento que move Milão.
Estreia ecoou por 11 minutos
A escolha ousada do teatro para abrir a temporada foi recompensada de forma estrondosa: “Lady Macbeth do Distrito de Mtsensk” recebeu mais de 11 minutos de aplausos, com cumprimentos calorosos ao maestro Riccardo Chailly e ao diretor Vasily Barkhatov, que fazia sua estreia na casa. O entusiasmo do público coroou uma noite que uniu memória histórica, risco artístico e excelência musical.
A apresentação marca a estreia italiana da versão original (1934) da ópera de Dmitri Shostakovich, cuja história é inseparável do escândalo político que a envolveu. Após o sucesso retumbante de sua estreia, a obra caiu em desgraça quando Stalin abandonou o teatro no meio da apresentação em 1936, classificando-a como “caos em vez de música” e determinando sua censura imediata. Por anos, Lady Macbeth desapareceu dos palcos soviéticos – e sua volta, especialmente agora, no cinquentenário da morte do compositor, tem sabor de reparação histórica.
No Alla Scala, a obra renasceu sob a regência de Chailly, em sua última estreia como diretor musical, com Sara Jakubiak brilhando como Katerina Izmailova, em um dos papéis mais intensos e controversos da ópera contemporânea.
A maior bilheteria de uma estreia de temporada
Além do impacto artístico, a noite também entrou para a história econômica do teatro:
foram € 2,8 milhões (R$ 12,5 milhões) em vendas, a maior bilheteria de uma estreia de temporada, superando os € 2,58 milhões arrecadados no ano anterior com La Forza del Destino. O subsecretário Gianmarco Mazzi resumiu o sentimento geral: a escolha corajosa de abrir com Shostakovich tornou-se um “verdadeiro sucesso”, com execução “de rara maestria”.
Milão vestida para a noite que define o ano
Entre os convidados da noite estiveram Mahmood, Achille Lauro, Anna Farzetti e Pierfrancesco Favino. O falecido Giorgio Armani teve uma presença particularmente marcante, com muitos dos presentes vestindo suas criações.



