
O Tribunal de Marsala condenou o médico italiano Alfonso Tumbarello, profissional que cuidou da saúde do chefe da Cosa Nostra Matteo Messina Denaro enquanto ele estava foragido, a 15 anos de prisão por cumplicidade em associação mafiosa e falsificação ideológica.
Segundo a acusação, foi Tumbarello quem garantiu ao mafioso acesso ao atendimento do Serviço Sanitário Nacional por meio de um tratamento de mais de dois anos contra um tumor no cólon, disponibilizando centenas de prescrições sanitárias e de análise falsamente indicadas para Andrea Bonafede – o amigo de infância de Denaro que emprestou sua identidade durante os quase 30 anos de fuga.
A sentença reforça o cerco judicial aos integrantes da rede que protegeu o chefe mafioso durante décadas.
Com esta decisão, sobe para 14 o número de condenados por colaborar com Messina Denaro desde sua captura, em janeiro de 2023.
De acordo com o processo, Tumbarello tinha pleno conhecimento da verdadeira identidade do paciente. Ele foi o primeiro médico a diagnosticar o câncer que acabaria causando a morte do chefe mafioso e prescreveu mais de 100 medicamentos e exames.
As autoridades indicam ainda que Bonafede, cuja identidade era usada por Denaro, gozava de boa saúde e também sabia perfeitamente que lidava com um mafioso.
O médico, hoje com mais de 70 anos, já havia sido liberado da prisão e colocado em domiciliar devido à idade.
O juiz de instrução destacou, na medida cautelar, que a relação entre o réu e Messina Denaro remontava à década de 1990 e ultrapassava os limites de um vínculo estritamente profissional.
O nome de Tumbarello também apareceu em uma antiga investigação envolvendo o ex-prefeito de Castelvetrano Antonio Vaccarino, condenado por tráfico de drogas e, posteriormente, falecido por Covid-19.
Vaccarino — maçom e amigo da família Messina Denaro — teria procurado o médico para intermediar um encontro com Salvatore Messina Denaro, irmão do ex-fugitivo. Ao todo, a promotoria havia solicitado uma pena de 18 anos para o profissional de saúde.
Em sua defesa, Tumbarello alegou ter acreditado sempre que estava tratando de Bonafede e afirmou desconhecer que o paciente verdadeiro era o foragido mais procurado da Itália.
Segundo o réu, o mafioso teria pedido para evitar consultas presenciais para impedir que sua suposta doença viesse a público, o que explicaria a ausência de encontros diretos entre médico e paciente nos últimos anos.
Para a investigação, porém, Tumbarello atendia o chefe mafioso de maneira pessoal e garantia o tratamento, assegurando a discrição sobre a real identidade de Denaro e atrapalhando as buscas policiais pelo chefe da Cosa Nostra, que faleceu de câncer em 25 de setembro de 2023, aos 62 anos, meses após ter sido detido.



