A União Europeia lamentou neste domingo (20) a “falta de ambição” do documento final aprovado após a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP27, encerrado em Sharm el-Sheik, no Egito.
O documento teve como principal novidade o acordo entre as nações para a criação do Fundo de Perdas e Danos, que visa ajudar os países mais pobres a enfrentar os problemas causados por desastres do clima. No entanto, o resto do texto é praticamente uma confirmação do que foi anunciado na COP26 em Glasgow no ano passado.
“O que temos diante de nós não é suficiente para constituir um passo adiante para a população do planeta. Não traz esforços adicionais suficientes por parte dos maiores poluidores para incrementar e acelerar o corte das emissões”, disse o vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans, durante a coletiva final.
Segundo o representante, “precisamos reconhecer que todos nós faltamos com ações para minimizar as perdas e os danos e que deveríamos ter feito muito mais, e isso quer dizer reduzir as emissões muito mais rapidamente”.
Timmermans ainda afirmou que muitos países “colocaram barreiras não necessárias” nas negociações e que “houve muitas tentativas de voltar atrás do que foi decidido em Glasgow”.
“Mas, não vamos parar de lutar para que todos façam mais”, acrescentou. Pouco depois, foi a vez da presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, se manifestar sobre os resultados e dizer que a “COP27 deu um pequeno passo em direção à justiça climática, mas é preciso fazer muito mais pelo planeta”.
“Nós tratamos alguns sintomas, mas não curamos a febre do paciente. Infelizmente, não chegamos a um acordo sobre emissões ou clima, mas a UE manterá rota, em particular, por meio do Green Deal e o RePowerEU porque é essencial manter as ambições do acordo de Paris ao alcance das mãos”, disse citando dois grandes programas aprovados que focam em redução de emissões e de investimento em energias limpas.
Quem também se manifestou foi o ministro do Ambiente e da Segurança Energética da Itália, Gilberto Pichetto, que seguiu na mesma linha de reclamações dos parceiros de bloco.
“Depois de negociações longas e difíceis, o resultado mais evidente dessa COP é a criação de um fundo para apoiar países mais vulneráveis para enfrentar perdas e danos consequentes de eventos climáticos extremos.
Menos satisfatórios são os resultados obtidos no fronte crucial da mitigação, onde provavelmente perdemos uma oportunidade importante para aumentar a ambição no campo das políticas de mitigação”, pontuou em comunicado.
Documento final
O acordo final da COP27 manteve o objetivo de ter o aquecimento global em até 1,5°C em relação ao período pré-industrial, o maior resultado da reunião de Glasgow.
Destaca ainda a importância da transição para as fontes renováveis e “deseja” a eliminação de subsídios às fontes fósseis de energia. Mas, o documento pede apenas a redução da produção elétrica a carvão com emissões não abatidas, não sua eliminação. Sobretudo, nada diz sobre a redução ou a eliminação do uso de combustíveis fósseis – como muitos países e a UE estavam pedindo.
A COP27 reconheceu que para manter o objetivo do 1,5°C é preciso reduzir as emissões em 43% até 2030 em relação aos números de 2019. Com os compromissos atuais de descarbonização, no entanto, o corte seria de apenas 0,3% na comparação 2030-2019. Por isso, algumas nações que não atualizaram os seus objetivos de descarbonização (identificados pela sigla NDC) foram “convidados” a fazer isso até 2023.
O documento final ainda ressalta que, para chegar às zero emissões em 2050, é preciso investir cerca de US$ 4 bilhões por ano até 2030 em renováveis e outros US$ 4 bi a US$ 6 bi na economia para reduzir emissões.
O texto cita com “séria preocupação” que ainda não foi instituído o fundo de US$ 100 bilhões por ano, que deveria ter começado em 2020, previsto pelo Acordo de Paris para ajudar os países menos desenvolvidos nas políticas climáticas. Segundo as previsões, não se falará disso até 2023.
Além do Fundo de Danos e Perdas, que conforme previsão não teve valores definidos agora, está previsto também um sistema de “primeiro alerta” para eventos meteorológicos extremos em todo os países do mundo.
A COP27 ainda reconheceu o papel fundamental de jovens, mulheres e comunidades indígenas na luta à crise climática.
Porém, há o enfraquecimento da proteção de oceanos e florestas, já que todos os encontros de alto nível que estavam previstos para 2023 foram eliminados.