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A estratégia de Salvini para conquistar “plenos poderes”

Ex-ministro tenta convocar referendo para reformar lei eleitoral

Após ter perdido o cargo de ministro do Interior da Itália por causa de uma inesperada aliança entre populistas e sociais-democratas, Matteo Salvini lançou uma nova estratégia para voltar ao poder.

As assembleias legislativas de cinco regiões governadas por seu partido, a ultranacionalista Liga, ou por aliados de direita aprovaram moções que pedem a convocação de um referendo para revogar o sistema proporcional em vigor nas eleições italianas.

O objetivo é introduzir no sistema eleitoral um modelo majoritário que dê o governo ao partido mais votado, independentemente do percentual. Atualmente, a Liga aparece como a legenda mais popular do país, com pouco mais de 30% dos votos.

Em caso de novas eleições legislativas, Salvini dificilmente conquistaria maioria no Parlamento e teria de formar uma aliança com outros partidos de direita para conseguir governar, incluindo o moderado Força Itália (FI), de Silvio Berlusconi.

A estratégia está em linha com os planos de Salvini ao tentar derrubar o primeiro-ministro Giuseppe Conte, em agosto. Na ocasião, ele disse durante um comício que queria “plenos poderes” para implantar seu programa de governo.

As regiões que pedem um referendo são Vêneto, Sardenha, Lombardia e Friuli Veneza Giulia, todas comandadas pela Liga, e o Piemonte, cujo governador, Alberto Cirio, é do FI, mas conta com o partido de Salvini em sua coalizão.

Para se convocar um referendo nacional na Itália, exige-se um pedido formal de pelo menos cinco regiões, porém outras duas ainda devem se juntar ao pleito: Ligúria e Abruzzo. A primeira é governada pelo FI, e a segunda, pelo partido de extrema direita Irmãos da Itália (FDI), mas em ambas a Liga faz parte da situação.

“É oficial: na próxima primavera [entre março e junho] teremos um referendo sobre o sistema majoritário. Finalmente os 60 milhões de italianos poderão votar. Quem vence governa, e quem perde não enche o saco”, disse Salvini nesta quinta-feira (26), durante um comício em Gênova.

“Fiquem tranquilos, tentarão bloquear esse referendo, mas coletaremos milhões de assinaturas”, acrescentou. A estratégia do ex-ministro também tenta evitar uma nova revisão da lei eleitoral que torne mais difícil uma vitória da Liga nas urnas.

Ironias

A defesa de um sistema majoritário por parte de Salvini despertou a ironia do ex-primeiro-ministro Matteo Renzi, que em 2016 tentara reduzir os poderes do Senado e criar um sistema que determinasse um vencedor claro após as eleições.

Seu projeto acabou barrado em um referendo no fim daquele ano, com o líder da Liga capitaneando a campanha pelo “não”. “Bom dia, ele demorou três anos para acordar. Salvini é assim, precisa de um tempo. Antes ia ao sul e insultava os meridionais, agora diz que defende o sul. Em três ou quatro anos apoiará os navios das ONGs”, afirmou.

Para fazer as cinco regiões aprovarem o referendo, Salvini precisou convencer o partido de Berlusconi, que hoje é a parte mais frágil da tríade conservadora com FDI e Liga. “O Força Itália tem uma posição diferente sobre a lei eleitoral, mas, para não dividir a centro-direita, demos nosso aval ao acordo”, afirmou a líder do FI na Câmara, Mariastella Gelmini.

O partido de Berlusconi defende que o sistema eleitoral mantenha uma “cota proporcional”, já que um modelo 100% majoritário poderia dar a Salvini a possibilidade de dispensar o FI para conseguir governar.

O sistema proposto pelo ex-ministro do Interior daria uma espécie de “prêmio de maioria” ao partido mais votado nas eleições legislativas. Outra alternativa seria um sistema distrital, onde apenas o candidato mais votado seria eleito, como acontece nos Estados Unidos.

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