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Colégio Dante Alighieri, em SP, recupera paridade com ensino italiano após 80 anos

O Colégio Dante Alighieri, uma das escolas mais tradicionais de São Paulo, conquistou a paridade com o ensino italiano para o seu “Liceo”, recuperando um status que havia sido perdido na Segunda Guerra Mundial.

Com isso, os estudantes que concluírem o Ensino Médio no colégio a partir de 2025 terão os diplomas brasileiro e italiano e poderão fazer o Exame de Estado, que marca o encerramento do ciclo escolar no país europeu.

A paridade era um desejo antigo do presidente do Dante Alighieri, José Luiz Farina, e dos dirigentes da escola, que foi fundada por imigrantes italianos em 1911. “Sempre sonhei que isso voltasse. Eu via isso como algo transcendental, imperativo. Era uma prioridade minha e da minha gestão”, afirma Farina em entrevista à agência Ansa.

O reconhecimento contempla o nono ano do Ensino Fundamental e os três anos do Ensino Médio, que correspondem ao “Liceo” do sistema escolar italiano. O Dante já teve a paridade até 1942, quando a ditadura de Getúlio Vargas proibiu o ensino de italiano nas escolas brasileiras devido à Segunda Guerra. Além disso, empresas e instituições com nomes italianos tiveram de ser rebatizadas, e o colégio passou a se chamar Visconde de São Leopoldo.

Após a guerra, em 1946, a escola retomou o antigo nome e iniciou uma longa jornada para restabelecer o sistema bicurricular. Esse objetivo, no entanto, ficou mais concreto a partir de 2019, quando o Dante instituiu o ensino paralelo dos currículos brasileiro e italiano para alunos do sexto ano do Ensino Fundamental, equivalente ao primeiro ano da Escola Média na Itália.

Isso permitiu que os estudantes chegassem ao “Liceo”, em 2022, já ambientados com o sistema bicurricular, que prevê ensino integral de manhã e de tarde. Além disso, alunos do primeiro ao quinto ano do Fundamental contam com um curso extracurricular de língua e cultura italiana para se preparar para o ensino paritário nas etapas seguintes. “A Itália só concedeu a paridade porque viu que começamos lá atrás”, afirma Farina.

Para Valdenice Minatel, diretora-geral educacional do colégio, o currículo italiano preza pela “valorização da ciência, da tecnologia e da matemática”. “Tudo isso se acopla ao currículo brasileiro e, no final, temos um currículo excepcional juntando as duas ênfases”, diz.

Já Angela Angoretto, coordenadora dos cursos Ecce (abreviação de “eccellenza”, ou “excelência”, e que contempla todo o conteúdo italiano na escola) e Liceo no Dante, destaca que a cultura italiana mistura a “tradição histórica e artística com uma grande modernidade”. “Um aluno que aprenda a pensar nesse sentido, essa vai ser a grande diferença. Você abre os horizontes do aluno”, afirma.

Entre outras coisas, a documentação exigida por Roma incluiu currículos dos professores e os programas de cada disciplina, em um processo sempre mediado pelo Consulado-Geral da Itália em São Paulo, que fica a apenas 600 metros do Dante. “Sem esse apoio, nada seria possível”, ressalta Farina.

Para o cônsul Domenico Fornara, o reconhecimento da paridade devolve o colégio à sua “missão original de formação secundária italiana”, ajudando a construir uma “italianidade contemporânea e consolidando o interesse dos jovens paulistanos pelo sistema formativo universitário” da Itália.

“O Colégio Dante Alighieri é um componente importante da história dos italianos em São Paulo, contribuindo, em mais de 100 anos de atividade, para a formação da classe dirigente da cidade e do estado”, afirma Fornara.

Atualmente, a Itália reconhece a paridade em 43 colégios no exterior, sendo três no Brasil: o Dante Alighieri e a Escola Eugenio Montale, em São Paulo, e a Fundação Torino, em Belo Horizonte.

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