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Comício consagra Salvini como líder da extrema direita na União Europeia

Líderes de 11 partidos de extrema direita da União Europeia se reuniram em Milão, para um comício que consolidou a imagem do ministro do Interior e vice-premier da Itália, Matteo Salvini, como comandante da coalizão soberanista que busca chegar ao poder em Bruxelas.

O evento foi realizado em frente à Catedral de Milão, faltando poucos dias para as eleições legislativas europeias, que acontecem de 23 a 26 de maio e renovarão os mais de 700 assentos do Parlamento comunitário.

Além de Salvini, o ato reuniu políticos de Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Eslováquia, Estônia, Finlândia, França, Holanda e República Tcheca. Em seus discursos, a maior parte deles buscou exaltar o papel do secretário do partido ultranacionalista Liga.

“Somos amigos da Liga há 30 anos e agora estamos ao lado de Matteo Salvini. Hoje escrevemos aqui a história europeia, tomamos o destino em nossas mãos. Os povos da Europa retomarão total controle de suas próprias fronteiras”, disse, em italiano, Gerolf Annemans, líder do partido belga Interesses Flamengos.

“Queremos uma única cultura europeia ou mantê-las diferentes? A Itália já fez algo incrível, Salvini defende a Europa quando evita a chegada de barcos [de migrantes]”, reforçou o eurodeputado Georg Mayer, do Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ), cujo líder, o vice-chanceler Heinz-Christian Strache, renunciou neste sábado após ser flagrado combinando repasses ilícitos para a legenda com uma suposta neta de um oligarca russo.

“Devemos parar a imigração, parar a islamização. Salvini já mudou a política italiana e é um exemplo para todos nós”, disse Geert Wilders, líder do holandês Partido para a Liberdade (PVV).

Já Boris Kollár, líder da legenda Nós Somos Família, afirmou que o italiano é um dos políticos mais populares na Eslováquia.

“Gostam dele porque ele conseguiu resolver o problema dos migrantes e ajudar quem precisa”, declarou, enquanto 47 deslocados internacionais a bordo do navio da ONG Sea Watch aguardam autorização da Itália para desembarcar em Lampedusa.

Salvini, por sua vez, promete manter os portos fechados.

Alvos – O comício também foi marcado por críticas à chanceler da Alemanha, Angela Merkel, ao presidente da França, Emmanuel Macron, e até ao papa Francisco, que foi vaiado por parte da multidão ao ser citado por Salvini. Os mandatários da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e do Banco Central Europeu, Mario Draghi, também entraram na mira.

“Obrigado, Matteo, por nos ajudar a eliminar Merkel, Macron, Juncker e os outros líderes europeus”, ressaltou Anders Vistisen, do Partido do Povo da Dinamarca. “Não somos antieuropeus, somos contra essa Europa atual e sua elite decadente. Devemos derrotar essa elite: Juncker, Draghi, Macron, Merkel”, declarou o europarlamentar Jorg Meuthen, do Alternativa para a Alemanha (AfD).

Outra presença ilustre foi a da deputada e ex-presidenciável francesa Marine Le Pen, que afirmou que esse momento era esperado “havia muito tempo” e “finalmente acontece sob o céu da Itália”. “Vivemos um momento histórico, e vocês poderão dizer aos netos: ‘Eu estava lá’. Não queremos mais essa UE que sopra os ventos nefastos da globalização selvagem”, disse.

Salvini – O último a discursar foi Salvini, que rechaçou os rótulos de extremista e ultradireita. “Os extremistas são aqueles que governaram a Europa por 20 anos. Aqui não há extremistas, racistas, fascistas, nós estamos construindo o futuro”, declarou.

O ministro prometeu “libertar” a União Europeia da “ocupação abusiva organizada em Bruxelas” e deixou claro o objetivo de tornar a Liga o partido mais votado da Itália e do bloco. “A liberdade e a vitória estão ao nosso alcance. Obrigado pelo entusiasmo e pelos sorrisos”, acrescentou.

Segundo Salvini, se a Liga vencer as eleições europeias, ele não deixará mais “nenhum” migrante entrar na UE. De acordo com uma projeção divulgada nesta semana pelo Parlamento Europeu, os grupos que hoje abrigam partidos eurocéticos, anti-Islã e antimigrantes podem formar a segunda maior bancada no bloco, atrás apenas dos conservadores do Partido Popular Europeu (PPE).

O objetivo da extrema direita é desbancar o grupo Socialistas e Democratas (S&D) e forçar uma coalizão com o PPE, que hoje governa a UE em aliança com a centro-esquerda. Com isso, os ultranacionalistas percorreriam um atalho para chegar ao poder em Bruxelas, embora Merkel, principal figura do PPE, já tenha descartado essa hipótese.

Outro desafio para a extrema direita é superar suas contradições internas, especialmente em questões econômicas e de política externa. Partidos da Polônia e dos países bálticos, por exemplo, criticam a proximidade de Salvini e Le Pen com a Rússia.

Já legendas da Alemanha, da Áustria e das nações nórdicas questionam a postura da Liga de defender abertamente o desrespeito às regras orçamentárias europeias, o que poderia comprometer a já elevada dívida pública italiana.

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