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Divisão de poder na União Europeia deixa Itália isolada

País possui hoje três cargos de alto escalão no bloco

País fundador da União Europeia, a Itália detém hoje três dos cargos mais cobiçados do bloco, porém corre o risco de ficar sem postos relevantes na repartição de poder em Bruxelas a partir de julho.

Depois das eleições europeias de 23 a 26 de maio, as negociações entre os Estados-membros estão a todo o vapor. Mas a Itália, terceira economia da zona do euro, pode sofrer a maior perda em relação ao cenário atual. O país controla hoje o Parlamento Europeu (Antonio Tajani), o Banco Central Europeu (Mario Draghi) e a diplomacia da UE (Federica Mogherini).

No entanto, das grandes potências europeias, a Itália é a única cujo governo não faz parte dos principais grupos políticos no Parlamento Europeu. A ultranacionalista Liga e o antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S) integram famílias eurocéticas que devem ser relegadas a um papel de oposição na próxima legislatura, apesar do crescimento da extrema direita nas eleições de maio.

Com isso, os dois partidos devem ter pouco peso na repartição de poder em Bruxelas. Situação diferente vivem Alemanha, França e Espanha, por exemplo. A chanceler Angela Merkel faz parte do Partido Popular Europeu (PPE), de centro-direita, dono da maior bancada no Parlamento.

Já o presidente Emmanuel Macron integra a ascendente ala dos liberais em Bruxelas, enquanto o primeiro-ministro Pedro Sánchez virou o principal expoente da social-democracia europeia, que tem o segundo maior número de europarlamentares.

As negociações ainda estão em curso, mas é provável que o comando da UE seja dividido entre PPE, Socialistas e Democratas (S&D), Aliança dos Democratas e Liberais pela Europa (Alde) e até os Verdes.

Veto

O “governo” da UE é exercido pela Comissão Europeia, chefiada hoje por Jean-Claude Juncker (PPE), e por seus 27 comissários, que seriam o equivalente aos ministros de um país. Com isso, cada Estado-membro tem um representante no alto escalão do poder Executivo.

Segundo o jornal La Repubblica, Alemanha e França ofereceram à Itália um cargo de prestígio para compensar sua provável perda de influência na Comissão Europeia: a presidência do Conselho Europeu, principal órgão político do bloco e, em última instância, responsável por ditar os rumos da união.

Mas a ideia enfrenta resistência da própria Itália. O comando do Conselho Europeu é reservado normalmente a ex-chefes de governo, porém todos os ex-primeiros-ministros italianos ainda ativos na política, à exceção de Silvio Berlusconi, são de centro (Mario Monti) ou de esquerda (Enrico Letta, Matteo Renzi e Paolo Gentiloni).

“Toda a minha solidariedade ao ex-premier Enrico Letta, mas no papel de comissário europeu pela Itália, não, obrigado”, declarou o vice-premier Luigi Di Maio (M5S), confundindo o poder Executivo com o Conselho Europeu. “É uma fantasia bizarra e curiosa”, acrescentou.

Segundo Di Maio, os “vários Letta, Renzi, Monti e Gentiloni” podem “dormir tranquilos”. “Ninguém pensa neles, nem mesmo os italianos”, ironizou. O resultado, no entanto, é que a Itália pode ser relegada a uma pasta de menor visibilidade na Comissão Europeia – atualmente, o rosto do país no poder Executivo da UE é Federica Mogherini, alta representante para Política Externa e Segurança e uma das artífices do acordo nuclear com o Irã.

O primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, esteve recentemente em uma cúpula extraordinária do Conselho Europeu, em Bruxelas, mas não fez nenhuma reunião bilateral, ao contrário de Merkel, Macron e Sánchez, entre outros.

Tentando romper o isolamento, Conte recebeu nesta segunda-feira (10) o líder do PPE, Manfred Weber, candidato de Merkel à presidência da Comissão Europeia. “O primeiro-ministro confirmou que trabalhará para que as nomeações europeias permitam uma solução equilibrada”, diz uma nota do governo.

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