
O clássico sonho de viver ‘la dolce vita’ e a ideia contemporânea de empreender têm motivado brasileiros a comprarem casas na Sicília, no sul da Itália, pelo valor simbólico de 1 euro, o equivalente hoje a R$ 6,4.
Iniciativas desse tipo começaram em 2009, no município siciliano de Gangi, e desde então se espalharam por todo o país, mas ganharam força nos últimos anos, diante do cenário de esvaziamento populacional enfrentado por vilarejos do interior da Itália.
“Escolhi a região porque é pouco explorada.
As pessoas ainda não a descobriram, só conhecem Milão, Roma, Veneza”, contou à agência Ansa a auxiliar administrativa e designer gaúcha Juliana Liberali, que está perto de comprar uma casa de dois andares em Pietraperzia, cidade da província de Enna com cerca de 7,3 mil habitantes.
“Sinto que aqui é o meu lugar. Amo muito a Itália”, acrescentou a brasileira, que pretende transformar a parte de baixo do imóvel em Airbnb e morar sozinha no andar de cima.
Já a paranaense Dinara Jane comprou recentemente uma propriedade na pequena cidade de Campofranco, situada na província de Caltanissetta, com cerca de 3 mil moradores, após ter adquirido uma casa de 1 euro em Taranto, na Puglia, hoje alugada para um casal de italianos.
“Recuperei o piso, mantive a madeira original”, contou a empreendedora sobre a reforma do imóvel de 42 metros quadrados, obra que custou cerca de 20 mil euros (R$ 127 mil). Segundo ela, o resultado final “ficou no estilo ‘trulli'”, as tradicionais construções de telhado cônico da Puglia, que são Patrimônio Mundial da Unesco.
“Mas é em Campofranco que vou construir a minha história”, revelou a paranaense sobre seus novos planos. Empolgada, Jane disse que o imóvel na Sicília, também de dois andares, fica “na praça” central. Assim como Liberali, ela pretende transformar uma parte da casa em hospedagem de temporada e viver na outra.
“A cidade está recebendo investimentos em estruturas, com restaurantes e cafés. Ali passam trens e tem internet”, destacou a gestora de obras sobre as vantagens de adquirir um imóvel em um lugar tão pequeno no sul da Itália, ressaltando ainda que o vilarejo não está distante de lugares turísticos famosos, como o Vale dos Templos, nem da capital siciliana, Palermo.
Maurizio Berti, proprietário do site “Case a 1”, que reúne ofertas em todo o país, contou que a Sicília é a “mãe” de uma estratégia já encampada por “cerca de 70 municípios” italianos.
“A ideia nasceu na Sicília em 2009, pelo prefeito de Gangi, Giuseppe Ferranello, que propôs oferecer casas a quem quisesse reformá-las”, salientou. Segundo Berti, iniciativas do tipo movimentaram a economia de municípios com o futuro ameaçado pelo esvaziamento populacional. “A vida é a mesma de sempre, só que, passeando pelos centros, você encontrará pessoas de outras nacionalidades”, afirmou.
De modo geral, esses projetos exigem um caução do comprador à prefeitura, com um prazo para realizar a obra. Mas também existem ofertas alternativas, como a promovida por Antonino Cuschera, da imobiliária siciliana Vero Affare, que não pede contrapartidas, o que tem contribuído para atrair brasileiros como Jane e Liberali à Sicília.
“Muita gente acha impossível comprar uma casa por 1 euro”, afirmou a designer gaúcha, que está perto de fechar negócio com Cuschera para adquirir um imóvel “que não tem tanta reforma assim para fazer”.