O primeiro-ministro da Itália, Matteo Renzi, desafiou Beppe Grillo, fundador do principal partido de oposição no país, o populista e antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S), a participar de um debate televisivo sobre o referendo constitucional de 4 de dezembro.
Presente no lançamento de um livro, o premier ironizou o humorista e disse que o confronto só não acontece por causa da recusa de seu adversário. "Eu não defino como pessimistas aqueles que se opõem ao governo, mas aqueles que querem negar um futuro à Itália. E aqueles que negam e dramatizam mais que os outros são os do M5S. Depois, quando eu convido Beppe Grillo a um embate, ele foge", afirmou Renzi.
Segundo ele, o Movimento 5 Estrelas pinta um "futuro de dimensões horrorosas" que, "paradoxalmente", encontra eco em parte da direita e da esquerda radical. "Perguntei a Grillo se queria fazer um confronto na televisão. Perguntei a Silvio Berlusconi e a todos aqueles que guiam uma coalizão. Estamos prontos para o embate. Creio que Grillo dirá 'não' porque precisaria ler a reforma constitucional. Não digo entendê-la, mas ao menos lê-la, e seria um problema", acrescentou.
Por sua vez, o fundador do M5S não deixou por menos e declarou que, se o primeiro-ministro quiser encontrá-lo, basta sair às ruas. "Se você me quiser, me encontrará na praça, entre as pessoas, por respeito ao meu habitat natural. Sim, Matteo, em meio às pessoas, não àqueles que você carrega como vendedores", escreveu Grillo em seu blog.
O referendo – A votação marcada para 4 de dezembro aprovará ou não a chamada "Lei Boschi", em referência a sua autora, a ministra Maria Elena Boschi, que reescreve boa parte da Constituição, principalmente aquela referente ao sistema político.
Se receber o aval do povo, o projeto determinará o fim do bicameralismo paritário, ou seja, apenas a Câmara dos Deputados continuará com o papel de aprovar leis e votar a confiança ao governo. Já o Senado, apesar de manter seu nome atual, será transformado em uma espécie de "câmara das autonomias", com funções muito menores que as atuais. Assim, os 315 senadores de hoje serão substituídos por 74 conselheiros regionais (cargo semelhante ao de deputado estadual no Brasil) e 21 prefeitos, todos escolhidos pelas Assembleias Legislativas de cada região, segundo indicações dadas pelos eleitores na urna.
Outros cinco membros serão nomeados pelo presidente da República para um mandato de sete anos, totalizando 100 "senadores".
Nenhum deles receberá salário. Nesse novo sistema, o Senado não terá a prerrogativa de derrubar ou empossar governos, porém seguirá decidindo sobre mudanças constitucionais, tratados internacionais e referendos populares.
A reforma também abolirá a figura das províncias, ente subordinado ao Ministério do Interior e que está entre os municípios e as regiões. Outros pontos importantes são a criação de prazos para que o Parlamento vote projetos do governo e a definição explícita das funções dos governos nacional e regionais.
Enquanto Renzi faz campanha pelo "sim" no referendo, o M5S, a oposição de direita e partidos de extrema-esquerda pedem o voto no "não", já que isso poderia levar à queda do primeiro-ministro e à convocação de novas eleições. As últimas pesquisas mostram uma população bastante dividida, mas com vantagem do "não". (Ansa)