
Um dos patrimônios artísticos e religiosos mais importantes da Itália, o complexo monumental do Duomo de Firenze, foi atingido por uma fraude multimilionária que desencadeou uma operação policial de grande escala que resultou, na manhã desta quinta, em prisões de norte a sul do país. As investigações revelaram um esquema de emissão de notas fiscais falsas e lavagem de dinheiro que, em apenas seis meses, teria movimentado cerca de € 30 milhões (R$ 191 milhões), deixando a Opera di Santa Maria del Fiore – responsável pela gestão da Catedral de Santa Maria del Fiore, do Campanário de Giotto e do Batistério de San Giovanni – como vítima direta do golpe.
A investigação teve início após denúncias feitas em março de 2025, quando a Opera di Santa Maria del Fiore percebeu movimentações financeiras atípicas associadas a um contrato de restauração do Complexo Eugeniano, em Florença. A organização sem fins lucrativos teria sido induzida a realizar pagamentos que totalizaram € 1.785.000 para uma conta bancária fictícia, supostamente ligada à empresa contratada.
A partir dessas irregularidades, a Equipe da Guarda de Finanças da Brescia reconstruiu uma rede complexa que operava com faturas para transações inexistentes, lavagem de dinheiro, dentre outras irregularidades.
Rede criminosa com atuação nacional e internacional
As autoridades identificaram uma estrutura com ramificações em várias províncias italianas — Brescia, Milão, Bergamo, Lodi, Prato, Rieti e Vicenza — envolvendo cidadãos italianos, albaneses, chineses e nigerianos. Até o momento, foram realizadas nove prisões, enquanto uma décima pessoa está foragida.
Segundo os investigadores, o grupo utilizava empresas de fachada, nomes fictícios e contas bancárias tanto na Itália quanto no exterior, incluindo China, Luxemburgo, Polônia, Alemanha, Espanha, Lituânia, Nigéria e Croácia.
Coração da operação: um apartamento usado como cofre de dinheiro
Foram executadas 21 buscas, incluindo um apartamento em Milão que funcionava como centro de armazenamento de dinheiro, registrado em nome de uma mulher chinesa. Lá, segundo as autoridades, era feita a devolução em espécie dos valores provenientes das faturas falsas.
O papel central da organização teria sido desempenhado por dois irmãos italianos, responsáveis por atrair “clientes” interessados no serviço ilícito e conectar esses empresários a operadores chineses que realizavam o reembolso em dinheiro. Pelo serviço, cobrava-se uma taxa de 2% a 7% aos cidadãos chineses, mais 2% aos intermediários italianos.
Opera di Santa Maria del Fiore é parte lesada
A instituição administradora do Duomo reforçou que não teve qualquer participação no esquema e que está colaborando integralmente com as autoridades. Em nota, afirmou ser vítima de um golpe sofisticado, que se aproveitou da complexidade das operações de restauro e da credibilidade histórica da entidade para executar transferências fraudulentas.
Especialistas afirmam que o caso é um dos maiores golpes já registrados contra uma instituição cultural italiana, e reacende a discussão sobre a necessidade de controles mais rígidos em contratos de restauro, um setor frequentemente visado por organizações especializadas em crimes financeiros.
As investigações continuam, e novos desdobramentos são aguardados à medida que as autoridades avançam sobre a rede de contas internacionais e os fluxos clandestinos de recursos.



