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FESTIVAL DE VENEZA 2010: Com “Somewhere”, Sofia Coppola volta ao tema predileto da solidão

Em uma sequência irônica e divertida de Somewhere, o novo filme de Sofia Coppola apresentado na manhã desta sexta-feira (3), na competição do Festival de Veneza, o protagonista Johnny Marco comparece a uma coletiva de imprensa de Los Angeles.

Ator famoso, ele vai divulgar seu novo filme e é alvo das perguntas mais extravagantes, do tipo "você gosta da China?" ou "quem é Johnny Marco?". A situação fez rir muitos jornalistas presentes na sessão porque retrata a realidade das chamadas "junkets", nome para esse tipo de encontro entre equipes de filmes e a mídia. A própria Sofia Coppola, realizadora de Somewhere, já passou por elas e sabe do que está falando. Embora o seu encontro com os jornalistas aqui em Veneza não tenha tido nenhuma pergunta disparatada, ela preferiu a simpatia contida e o tom monossilábico.

O novo trabalho da filha de Francis Ford Coppola e realizadora de Encontros e Desencontros e Maria Antonieta é o melhor entre os seis filmes exibidos até agora em concurso. Mais ainda, sobrevive com suas qualidades sob qualquer perspectiva. É um filme de pequena ambição na narrativa e no contexto, mas potente, tanto no humor como no drama, na descrição do vazio da vida do personagem em questão. Nesse sentido, tem similaridades com Encontros e Desencontros no que diz respeito à condição solitária do protagonista, vivendo provisoriamente em um hotel, sem perspectivas maiores do que atender às responsabilidades do trabalho.

Naquele título de 2003, Sophia concedeu uma ótima oportunidade a Bill Murray renovar sua carreira. Agora é a vez de Stephen Dorff arriscar no tipo mais complexo de Marco, que entre programas com dançarinas de pole dance e saídas com sua Ferrari pelas ruas da cidade, tem de conviver com a filha adolescente que pouco vê (Elle Fanning). Um tanto saturado da fama e a vida insípida de hotel, ele bebe e procura extravasar a solidão.

Na entrevista, Sophia concordou que a solidão é um tema que a atrai. "É no seu isolamento que muitas vezes uma pessoa tem seu ponto de transição de uma vida superficial, autodestrutiva e evolui", explicou. Mas ela faz questão de dizer que não há nenhum tipo de simbolismo maior nesses personagens. "São homens comuns, que nem sempre são notados e justamente por isso me interessam". Sobre a proximidade entre os personagens de Murray e Dorff, a diretora diz não ter pensado numa semelhança proposital. Para ela, a diferença é que Marco acreditava ter conquistado o mundo e agora se encontra desolado, perdido, o que não é o caso de Murray da fita anterior.

Se talvez haja uma identificação entre os dois, esclarece ela, isso acontece devido ao cenário de hotel em ambos os filmes, com direito a cenas na piscina e no bar. "Adoro filmar em hotéis, pela praticidade mesmo, e porque representam um lugar impessoal, de passagem, que é bom quando se chega, mas logo se quer sair".

É mais ou menos isso que Marco faz com a filha ao fugirem de um sofisticado hotel de Milão de volta aos Estados Unidos. Sophia escolheu a cidade italiana para filmar por tê-la visitado quando criança com o pai. Ela não deixou claro, no entanto, se a relação do protagonista com a filha adolescente tem algo de biográfico, especialmente no que concerne aos compromissos profissionais similares ao de um cineasta famoso como Coppola. Não é difícil arriscar, contudo, que ela conheceu logo cedo e bem de perto também o lado vazio e superficial do mundo das estrelas de Hollywood e agora mostra na tela o que sabe.

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