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ANO DE 2015: Pizzolato e a chance de revanche da Itália

Exatos 605 dias. Esse foi o tempo necessário para a conclusão de uma das maiores novelas do ano, embora iniciada ainda em 2014: a extradição pela Itália do ex-diretor de marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, que colocou à prova as boas relações entre Roma e Brasília.

Do pedido enviado pela Procuradoria-Geral da República ao Ministério da Justiça italiano, em 24 de fevereiro de 2014, à definitiva expulsão do ex-banqueiro petista, em 22 de outubro de 2015, o que se viu foi um vai e vem que parecia interminável de processos, recursos, julgamentos e apelos e a lembrança constante de um homem, Cesare Battisti, o ex-ativista que, anos antes, pusera os dois países em situação inversa.

No último dia de seu mandato, em 31 de dezembro de 2010, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva negara a extradição do italiano – condenado à prisão perpétua em sua terra natal por terrorismo e envolvimento em quatro homicídios –, uma decisão até hoje não engolida por muitos em Roma.

É verdade que os governos mudaram. Saiu Lula, entrou Dilma Rousseff. Saiu o conservador Silvio Berlusconi, entrou o social-democrata Matteo Renzi. Mas a Itália enterrou em outubro passado qualquer suspeita de revanchismo. “Era o que eu dizia ao governo italiano: nós deveríamos mostrar ao Brasil o que realmente deve ser feito em um caso como esse. Não temos o direito de julgar ninguém, mas os países onde são cometidos os crimes são os responsáveis por tomar as devidas providencias”, diz a deputada ítalo-brasileira do Parlamento italiano, Renata Bueno.

O próprio advogado de Pizzolato, Alessandro Sivelli, usava como argumento contra a extradição de seu cliente o asilo concedido pelo Brasil a Battisti. No entanto, esse episódio servia apenas de suporte ao principal pilar da defesa do ex-banqueiro: a condição das prisões brasileiras. Durante todo o processo, Sivelli tentou provar à justiça da Itália que o Complexo Penitenciária da Papuda, no Distrito Federal, não tinha como garantir a segurança e os direitos humanos de Pizzolato, um cidadão italiano.

A tese foi encampada também pelos senadores Cecilia Guerra e Luigi Manconi, ambos do centro-esquerdista Partido Democrático (PD), o mesmo de Renzi e do ministro da Justiça Andrea Orlando.

Eles lideraram um movimento no Parlamento para tentar fazer com que o ex-diretor do BB cumprisse sua pena na Itália, que havia autorizado a repatriação no fim de abril passado.

“Inclusive, a senadora Cecilia Guerra me ligou e eu expliquei o caso, que era um grande escândalo de corrupção e que ele era um dos operadores desse esquema, e mesmo assim ela levantou a bandeira, mas por questões mais pessoais do que institucionais”, conta Bueno. Guerra é originária da província de Modena, a mesma onde o ex-banqueiro foi capturado e encarcerado, o que, na visão da deputada ítalo-brasileira, pode ter influenciado seu ativismo.

Com a extradição decidida, o caso parecia encerrado, mas Pizzolato recorreu à justiça administrativa e à Corte Europeia de Direitos Humanos, conseguindo adiar seu retorno, mas não evitá-lo. Seus defensores ainda apelaram ao presidente Sergio Mattarella, em vão. Todas as sentenças, em todas as instâncias, com exceção da Corte de Apelação de Bolonha, deram aval para que ele fosse devolvido ao Brasil.

O ex-diretor de marketing foi condenado a 12 anos e sete meses de prisão por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro no processo do mensalão, acusado de desviar dinheiro do Banco do Brasil para as empresas de Marcos Valério, operador do esquema. Quando foi capturado pela polícia italiana, vivia tranquilamente na casa de parentes em Maranello, lar da Ferrari. Antes, alugara uma vila com vista para o mar na pitoresca cidade de Porto Venere. Quase dois anos depois, Pizzolato é mais um hóspede ilustre da Papuda e divide uma cela com dois detentos, sendo um estuprador.

Se um dia conseguir voltar ao país que lhe concedeu cidadania e onde desfrutou de breves momentos de liberdade como foragido, será recebido por um processo por falsidade ideológica. Para fugir, o ex-banqueiro usou um passaporte falso em nome de um irmão morto. Por alguns meses, pareceu ter dado certo.

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