
O ministro da Defesa da Itália, Guido Crosetto, afirmou que seu país não poderá fazer nada para proteger a Flotilha Global Sumud, frota que navega em direção à Faixa de Gaza para levar ajuda humanitária à população civil, se ela entrar em águas territoriais israelenses.
A declaração foi dada perante a parlamentares em um pronunciamento na Câmara dos Deputados da Itália, após o último ataque contra a missão, que reúne mais de 600 ativistas e políticos de dezenas de países, incluindo a ambientalista sueca Greta Thunberg, o brasileiro Thiago Ávila e deputados italianos.
“O clima é preocupante e eu digo que não podemos garantir a segurança das embarcações fora das águas internacionais. Quero deixar isso claro”, afirmou Crosetto.
Durante sua intervenção, o ministro italiano repetiu a afirmação da primeira-ministra Giorgia Meloni de que a tentativa de romper o bloqueio israelense para entregar ajuda ao enclave palestino foi “irresponsável”.
“Continuaremos trabalhando para que nenhum incidente aconteça com a Flotilha e peço a ajuda de vocês, independentemente de divergências políticas”, apelou ele, que enviou uma fragata da Marinha Italiana para a área onde a flotilha navega após o ataque desta semana.
O político também aproveitou o discurso para dizer que o grupo deveria aceitar a oferta da Igreja Católica e levar a ajuda humanitária que está transportando para o Chipre, para que o Patriarcado Latino de Jerusalém a entregue ao enclave palestino.
“Eu me perguntei: Seria realmente necessário colocar em risco a segurança dos cidadãos italianos para levar ajuda a Gaza? O governo tem prestado apoio significativo à população do enclave palestino; somos capazes de entregar ajuda em poucas horas.
Perguntei até onde a flotilha deveria ir”, disse ele, acrescentando que todos vão continuar “trabalhando para garantir que nenhum incidente ocorra”.
O ministro da Defesa ainda agradeceu o vice-premiê e chanceler da Itália, Antonio Tajani, “pelo trabalho que vem realizando há dias”, mas reforçou que “o objetivo é ajudar a levar a ajuda aos necessitados e, ao mesmo tempo, proteger cada uma das pessoas a bordo da Flotilha Sumud”.
“Todos nós temos em mente o destino de cada italiano. O que eu gostaria é que a ajuda que a flotilha está trazendo para Gaza chegue a Gaza, e que nenhuma das pessoas ou embarcações envolvidas seja feridas”, afirmou.
Além disso, Crosetto ressaltou que a Itália tem estado na linha de frente, “aliviando o sofrimento da população civil alvo do Hamas, mobilizando pessoal, recursos e expertise de todas as Forças Armadas” e “isso resultou em dezenas de resultados concretos – poucos em comparação com a tragédia em curso, mas muitos em comparação com o que outras nações alcançaram”.
Segundo ele, “centenas de palestinos receberam tratamento e assistência médica”, tendo em vista que “dezenas de pacientes já foram evacuados por motivos médicos do navio Vulcano e levados para a Itália”.
“Toneladas de suprimentos de emergência foram levadas para Gaza, mais de 100 toneladas de suprimentos alimentares foram transportadas por aviões C-130. Este esforço integrado e interministerial, coordenado por todo o governo, e em primeiro lugar pelo Ministério das Relações Exteriores, confirma nossa capacidade — não do governo, mas da Itália — de sermos líderes em diplomacia humanitária concreta e levarmos alívio imediato às populações afetadas pela crise”, destacou.
Por fim, Crosetto enfatizou que o “governo italiano expressa sua mais veemente condenação ao ocorrido”, principalmente porque “ataques a embarcações civis em mar aberto são totalmente inaceitáveis”.
Para o ministro, “este incidente relembra com veemência os valores fundamentais” da Itália: “o respeito ao direito internacional, a proteção da vida humana e a defesa da liberdade de reunião pacífica. Qualquer manifestação, se respeitar a lei, deve ser protegida e não pode ser reprimida com violência”, concluiu.
Reação
Após o apelo de Crosetto para a Flotilha Global Sumud aceitar o “plano B” e entregar a ajuda humanitária destinada aos civis palestinos no Chipre, por questões de segurança, a delegação italiana do Movimento Global para Gaza informou às autoridades do “Belpaese” que os ativistas “não aceitarão a proposta.
“Nossa missão permanece fiel ao seu objetivo original de levantar o cerco ilegal e entregar ajuda humanitária à população sitiada de Gaza, vítimas de genocídio e limpeza étnica. Qualquer ataque ou obstrução à missão constituiria uma grave violação do direito internacional”, concluiu a nota.