
O governo da Itália deu sua aprovação final ao projeto de 13,5 bilhões de euros, valor equivalente hoje a R$ 86 bilhões, para construir a ponte suspensa mais longa do mundo, que vai ligar a Península Itálica à ilha da Sicília.
Sonhada há 50 anos, a obra é uma bandeira do vice-premiê e ministro da Infraestrutura e dos Transportes, o nacionalista Matteo Salvini, e recebeu o aval do Comitê Interministerial para Programação Econômica e Desenvolvimento Sustentável (Cipess), órgão chefiado pela premiê Giorgia Meloni.
A ponte do Estreito de Messina terá 3,66 quilômetros de extensão, dos quais 3,3 quilômetros serão suspensos por cabos ligados a duas torres de 399 metros de altura. Ao todo, serão duas faixas para carros em cada sentido, além de acostamentos, e duas linhas de trem no centro da estrutura.
Segundo Salvini, as obras dependem apenas do aval do Tribunal de Contas e podem começar entre setembro e outubro, com previsão de conclusão entre 2032 e 2033. “Hoje os trens levam entre 120 e 180 minutos [para cruzar o Estreito de Messina em balsas ferroviárias], mas isso cairá para 15 minutos, uma economia que passa de duas horas e meia”, disse o ministro.
O governo italiano também afirma que ponte será capaz de suportar fortes ventos e terremotos, em uma região de intensa atividade sísmica, situada sobre a junção de duas placas tectônicas, e servirá para estimular a economia de duas das regiões mais pobres do país, a Calábria e a Sicília.
“É uma obra imponente e que está na vanguarda do ponto de vista técnico e de engenharia, além de estratégica para o desenvolvimento de toda a nação”, declarou Meloni na reunião do Cipess.
Por outro lado, o projeto é alvo de críticas da oposição devido ao custo elevado, aos possíveis efeitos no meio ambiente e aos supostos riscos sísmicos.
“Hoje o Cipess deu o aval definitivo ao maior desperdício de dinheiro já visto na Itália, que não terá sequer um euro de investimento privado. Nem Berlusconi foi tão ousado. É a obra-prima de Salvini, que joga bilhões de euros em cimento e propaganda”, afirmou o deputado de esquerda Angelo Bonelli.
Já a deputada Maria Stefania Marino, de centro-esquerda, alegou que o projeto é “errado, perigoso e nasce sobre pressupostos infundados”. “É preciso parar com tudo antes que isso se traduza em um dano irreparável para nosso território e o futuro das próximas gerações”, salientou.
Os gastos com a ponte do Estreito de Messina devem ser classificados pelo governo como “despesas de defesa”, em meio às pressões do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para os membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) aumentarem os investimentos militares para 5% do produto interno bruto (PIB).
Desse total, 1,5 ponto percentual pode ser alocado em “áreas relacionadas à defesa”, como segurança cibernética e infraestrutura — a Sicília abriga uma base da Otan.