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MÚSICA: Festival de Rossini termina com chave de ouro

Enquanto a Itália enfrenta a pior crise econômica dos últimos 20 anos, Pesaro, a pequena cidade natal do compositor Gioachino Rossini (1792-1868), encerra com sucesso a 32ª edição do Festival anual dedicado ao maestro. 

Às margens do mar Adriático e no sopé das colinas do centro-leste da Itália, o Rossini Opera Festival (ROF) ofereceu mais uma vez três semanas de representações de altíssimo nível a um público exigente, vindo de várias partes da Europa e do mundo. 

"Quem saberia localizar Pesaro no mapa se não fosse por Rossini?", disse à ANSA a chefe de imprensa do ROF, Simona Barabesi, ao refletir sobre os efeitos da crise neste evento, em que 60% do público não é italiano.

Um fato que, de acordo com o superintendente do Festival,Gianfranco Mariotti, é "um dado sem precedentes" no país. Desde 1980, ano inaugural do ROF, três semanas de agosto reúnem amantes de Rossini neste "revival moderno de sua produção dramática" com uma "constante linha estratégica baseada no rigor musicológico", acrescentou Mariotti. 

"Nós temos um público rico – explica Barabesi – e a crise neste sentido não é particularmente sentida", destaca. Para corroborá-lo basta pensar, por exemplo, nos grupos de japoneses que enfrentam horas de viagem para desfrutar de uma semana de música, mar e excelente comida local.

A imprensa especializada também chega a Pesaro em agosto, que inclui desde latino-americanos que trabalham para agências internacionais, até croatas, eslovenos, espanhóis, alemães e franceses, entre outros.

Com esta sólida base de audiência e de imprensa, o ROF prossegue seu caminho apesar de "um governo que não consegue entender que a cultura é fonte de trabalho", lamenta Barabesi. E a palavra trabalho inclui não só a especificidade da música, mas tudo o que se relaciona ao turismo.

Não faltam dados concretos. "Há 32 anos Pesaro era uma cidade provincial pouco conhecida. O ROF mudou esta perspectiva", disse a chefe de imprensa, ressaltando que cerca de 500 pessoas trabalham para o Festival em agosto e mais de uma dezena durante o ano todo.

O ROF também tem sua própria alfaiataria e equipes e equipamentos cênicos, capazes de "fazer tudo em casa", garante.

Por outro lado, o Festival descobriu e convoca "vozes rossinianas" para as quais antes não existia um teatro deste nível, não só italianas, mas de todo o mundo.

Entre estes artistas há vários latino-americanos, como o agora famoso tenor peruano Juan Diego Florez, que estreou em Pesaro em 1996. Este ano, em "La scala di seta", brilhou seu colega argentino Juan Francisco Gatell, que mostrou sua bela voz e muita fluência no palco. 

Também em 2011 estreou Yi-Chen Lin, jovem maestrina nascida em Taipei (Taiwan), com a batuta de um clássico da Academia Rossiniana, "Il viaggio a Reims". Estes são apenas alguns poucos exemplos da fonte de trabalho gerada pelo Festival, aos quais se somam cantores de Cuba, Israel, Austrália e Japão, entre outros.

"Pagamos pouco porque temos pouco dinheiro", explicou Barabesi, e destaca que "os artistas aceitam porque o ROF confere prestígio".

As dificuldades de um "orçamento reduzido" impedem encenações "grandiosas", substituídas por outras mais baratas mas igualmente eficazes, como ocorreu este ano com "La scala di seta".

Quanto ao público italiano, segundo fontes do teatro e locais, este ano escolheu locais mais baratos, foi menos a salões e butiques, e optou por roupas "mais desportivas".

Assim, quando o lindo Teatro Rossini – inaugurado em 1637 com o nome de Teatro do Sol e dedicado ao autor de "Il barbiere di Siviglia", em 1855 – abriu suas portas este ano, era curioso e gratificante ver mulheres elegantes com seus chapéus e xales, ao lado de homens de jeans, tênis, camisa de mangas curtas e sem paletó.

Rossini segue atraindo um público multifacetado em Pesaro, de cabeças brancas e de jovens amantes da música.

Considerado no nível do Festival de Bayreuth para Richard Wagner, o ROF está determinado a continuar a sua linha de excelência, apesar das dificuldades econômicas e da pouca atenção que o governo italiano dá à cultura. (ANSA)

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