
Após o governo da primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, aprovar de forma definitiva o decreto-lei que limita a transmissão da cidadania italiana por direito de sangue a apenas duas gerações, representantes das comunidades do país europeu no exterior acreditam que a medida, que “ainda precisa esclarecer muita coisa”, poderá ter consequências negativas para a nação, que sofre, por exemplo, com o declínio populacional.
Em entrevista à agência Ansa, o deputado Fabio Porta, eleito pela comunidade italiana na América do Sul, destaca que a medida não apenas “corta um cordão umbilical histórico que, através do jus sanguinis, uniu famílias e territórios”, como ainda “elimina uma das poucas soluções” para alguns dos atuais problemas contemporâneos do país, como a “gravíssima crise demográfica”.
Segundo o parlamentar, a nova lei rompe ainda “um profundo vínculo transnacional que contribuiu para fazer da Itália uma das grandes potências mundiais da atualidade”.
Porta ainda enfatizou que “o decreto foi apresentado e divulgado como uma medida necessária para combater oportunistas e aproveitadores e para garantir a segurança nacional contra a crescente presença de italianos no mundo”. “Uma verdadeira vergonha!”, ressaltou.
Já para a presidente do Movimento Associativo Italianos no Exterior (Maie) no Brasil, Luciana Laspro, o atual governo ignora a diáspora italiana que emigrou milhões de pessoas da Itália pelo mundo nos últimos 150 anos.
“A Itália precisa da força dos italianos fora do país”, destaca a representante do Maie Brasil, que lamenta pelos descendentes que “estavam na fila” para protocolar o pedido de cidadania e foram “descartados”.
De acordo com Laspro, Meloni e os vice-premiês Antonio Tajani, autor da proposta, e Matteo Salvini, “pagaram para ver” as consequências que a aprovação do decreto-lei trará após ser sancionado pelo chefe de Estado, Sergio Mattarella, nos próximos dias.
Por sua vez, a presidente do Comitê dos Italianos no Exterior do Rio Grande do Sul (Comites-RS), Cristina Mioranza, lamenta que a mudança ocorra justamente no período em que o estado brasileiro celebra os 150 anos da imigração italiana em seu território, um ano após a comemoração da data a nível nacional.
“Com o apoio de profissionais especializados na área, buscamos entender os impactos da nova legislação para melhor orientar e apoiar os ítalo-gaúchos neste momento de mudanças”, destacou Mioranza, acrescentando que o “compromisso é fornecer informações claras e contribuir para que todos possam tomar decisões com segurança”.
A Câmara dos Deputados na Itália aprovou, de forma definitiva, o decreto-lei que limita a transmissão da cidadania italiana por direito de sangue.
Entre as mudanças está o fato de que só poderá ter a cidadania reconhecida quem tiver um ascendente de primeiro (pai ou mãe) ou segundo grau (avó ou avô) nascido na Itália, criando um limite geracional que antes não existia.