
Políticos de oposição acusaram a premiê da Itália, Giorgia Meloni, de promover um boicote aos referendos que podem reduzir pela metade o tempo necessário para um imigrante obter a cidadania italiana e reverter flexibilizações nas leis trabalhistas.
A primeira-ministra se tornou alvo de críticas por dizer que iria a seu colégio eleitoral para as consultas populares, marcadas para 8 e 9 de junho, mas que não pegaria as cédulas de votação.
Na prática, isso significa que Meloni não vai votar nos referendos, que precisam ter uma participação de mais de 50% do eleitorado para que os resultados sejam válidos.
“Meloni está brincando com os italianos ao dizer: ‘Vou votar, mas não voto’.
Em vez de dizer se é favorável ou contrária aos cinco quesitos sobre trabalho e cidadania, ela confirma que quer afundar os referendos”, disse a deputada Elly Schlein, líder do Partido Democrático (PD), de centro-esquerda.
“Meloni tem medo da participação e de dizer a verdade que está sob os olhos de todos: que é contra combater a precariedade e melhorar a lei de cidadania. Que pelo menos tivesse a coragem de votar ‘não'”, salientou Schlein, que defende o “sim” nas cinco consultas.
Já o ex-premiê Giuseppe Conte, líder do antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S), afirmou que o posicionamento da primeira-ministra causa indignação, “mas não surpreende”. “É vergonhoso que essa mensagem de abstenção chegue de uma premiê em 2 de junho [Dia da República]”, salientou.
O partido de direita Irmãos da Itália (FdI), liderado por Meloni, rebateu que a escolha da primeira-ministra é “legítima”. As legendas da base aliada vêm fazendo campanha pela abstenção nos cinco referendos, convocados a pedido de sindicatos e de forças de centro e centro-esquerda.
Um dos quesitos pede a redução de 10 para cinco anos no prazo para um imigrante em situação regular solicitar a cidadania italiana, restabelecendo a norma que vigorou até o início da década de 1990.
Já os outros quatro propõem alterações nas leis trabalhistas, como o retorno da proibição às demissões sem justa causa em companhias com mais de 15 funcionários, o fim do limite às indenizações para funcionários mandados embora sem justificativa em pequenas empresas, a introdução de regras mais rígidas para contratos temporários e a responsabilização da firma contratante no caso de acidentes com funcionários terceirizados.