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“Pobreza” e “recessão” dominam as telas no Festival de Cinema de Veneza 2013

A pobreza e os efeitos do colapso econômico de 2008 sobre as pessoas e a sociedade são os temas dominantes da 70ª edição do Festival de Cinema de Veneza, que começou na quarta-feira e vai até o dia 7.

É o caso, por exemplo, de "Joe", drama gótico ambientado no sul dos EUA e exibido nesta última sexta-feira, com Nicolas Cage no papel de um alcoólatra, como já havia sido em "Despedida em Las Vegas". Ou então "Die Frau des Polizisten" (A Mulher do Policial), sobre a violência doméstica.

A crise econômica influi não só nas tramas mostradas. Na quarta-feira, o cineasta mexicano Alfoson Cuarón disse que a situação financeira dos estúdios quase inviabilizou seu "Gravidade", drama espacial de grande orçamento, que abriu o festival nesta semana.

Paul Schrader, de "Taxi Driver", "Touro Indomável" e outros sucessos dos anos 1970 e 80, disse em entrevista coletiva nesta última sexta-feira que "o negócio cinematográfico está passando por uma mudança sistemática – não sistemática, uma mudança sistêmica.

Tudo o que sabemos do passado não se aplica mais", afirmou Schrader, que levou a Veneza seu "Canyons", com Lindsay Lohan.

Em "Joe", dirigido por David Gordon Green com base num romance homônimo de Larry Brown, Cage interpreta um homem do sul dos EUA, beberrão e esquentado, que fica amigo de um menino oriundo de um ambiente violento.

A pobreza exala de cada cena, da detonada caminhonete que Joe dirige para apanhar os empregados negros que ele usa para envenenar uma floresta e limpar o campo, até os vizinhos dele, que moram em barracos e comem animais selvagens achados no acostamento da rodovia.

"Fui muito cuidadoso na seleção do filme … Eu havia ficado um ano sem trabalhar e aí achei esse roteiro", disse Cage na entrevista coletiva do filme.

"Para mim, era uma chance de voltar a uma profunda análise do personagem, construção do personagem, e de trabalhar com David", acrescentou o ator, que ganhou um Oscar em 1995 por "Despedida em Las Vegas".

Naquele filme, em que ele interpretava um roteirista alcoólatra, ele se preparou se embebedando e vendo o resultado em vídeo.

Em "Joe", ele e o garoto Tye Sheridan simularam a embriaguez girando até ficarem tontos.

Já "Die Frau…" mostra uma jovem família no interior alemão, cuja vida aparentemente pacata descamba para a violência.

O diretor Philip Groening, do contemplativo "O Grande Silêncio", sobre monges cartuxos nos Alpes suíços, disse que os gatilhos emocionais e psicológicos da violência são o principal tema do filme, mas que a situação econômica também é vista.

"O filme não trata só de violência doméstica, o filme também está tratando do amor entre a mãe e a filha", disse Groening. "Há também um aspecto de pobreza no filme."

O filme de três horas, dividido em 59 capítulos, tem diálogos improvisados e mostra minúcias do cotidiano familiar.

A violência está presente em algumas poucas cenas, mas é visível principalmente na degradação física da protagonista ao longo do filme, chegando ao ponto de negligenciar a higiene pessoal, o que é revelado numa observação cruelmente inocente da menina Clara: "Mamãe, você está fedendo".

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