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Prefeito de Lampedusa ameaça declarar estado de emergência por crise humanitária

Ilha italiana é palco de crise humanitária no Mediterrâneo

O prefeito de Lampedusa, principal porta de entrada para migrantes e refugiados na Itália, ameaçou declarar estado de emergência na ilha se o governo nacional não tomar nenhuma atitude.

A mesma medida já havia sido pedida há cerca de duas semanas pelo governador da Sicília, Nello Musumeci. “É uma situação ingovernável. Se o governo não proclamar o estado de emergência em Lampedusa, eu o farei”, disse o prefeito Totò Martello.

Segundo ele, o centro de registro e acolhimento de migrantes e refugiados da ilha está superlotado e não pode acolher mais ninguém. “A responsabilidade dessa emergência não pode recair sobre o prefeito, sobre a administração municipal e sobre os lampedusanos”, acrescentou.

Situada no Mediterrâneo Central, mais perto da África do que da Península Itálica, Lampedusa tem cerca de 6 mil habitantes e um centro de acolhimento com capacidade para menos de 100 deslocados internacionais, mas hoje abriga aproximadamente mil.

De acordo com a Federação Sindical de Polícia (FSP), pelo menos 25 migrantes que desembarcaram na ilha nos últimos dias testaram positivo para o coronavírus Sars-CoV-2 em exames sorológicos, que detectam anticorpos para o patógeno no sangue.

A maioria dos deslocados internacionais que chegam em Lampedusa cruza o Mediterrâneo a partir da Tunísia, que fica a cerca de 100 quilômetros em linha reta da ilha italiana.

O intenso fluxo migratório na região, que é sempre maior nos meses de verão na Europa, já provocou tragédias como a de 18 de abril de 2015, quando mais de 700 pessoas morreram no naufrágio de um barco clandestino.

Volta à pauta

O recrudescimento da crise no Mediterrâneo deu munição ao líder de extrema direita Matteo Salvini, que, com a pandemia sob controle na Itália, voltou a dar prioridade à emergência migratória e vem fazendo posts diários nas redes sociais sobre os desembarques no sul do país.

No último dia 23, Salvini visitou o centro de acolhimento de Lampedusa e criticou o governo pela situação na ilha, mas o prefeito Martello disse neste sábado que o senador “continua se comportando como um mentiroso serial”.

“Quando Salvini era ministro [do Interior], os desembarques em Lampedusa continuaram. Se Salvini tivesse vindo a Lampedusa naquele período [entre 2008 e 2019], quando eu pedi diversas vezes uma interlocução com o ministério, sem obter resposta, ele teria visto as embarcações entrarem no porto”, afirmou.

De acordo com o prefeito, o líder de extrema direita visitou Lampedusa nesta semana “por pura propaganda política, comportando-se como um perigoso bobo da corte que fomenta ódio e raiva”.

Travessias

O número de migrantes forçados que cruzam o Mediterrâneo rumo à Itália vinha caindo desde 2017, quando o governo de Paolo Gentiloni, de centro-esquerda, assinou um acordo para treinar e equipar a Guarda Costeira da Líbia para conter os fluxos na região.

Em 2016, o país europeu acolheu 181,4 mil deslocados internacionais via Mediterrâneo, cifra que baixou para 119,4 mil no ano seguinte e 23,4 mil em 2018, quando Salvini assumiu o Ministério do Interior e endureceu as políticas migratórias. Em 2019, cerca de 11,5 mil migrantes concluíram a travessia, de acordo com dados do governo.

No entanto, as estatísticas oficiais mostram que a cifra voltou a subir neste ano: a Itália contabiliza a chegada de 11.334 deslocados internacionais em 2020, um aumento de 223% na comparação com o mesmo período do ano passado.

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