Catolicismo Romano

São Roberto Belarmino e Partido Comunista

Em seu pequeno tratado “Da Monarquia Eclesiástica do Romano Pontífice”, São Roberto Belarmino faz uma especulação interessante: qual seria o melhor regime de governo? O cardeal parte da seguinte premissa: se Jesus Cristo é Deus e fundador da Igreja, então Ele constituiria para ela a melhor forma possível de governo. Cá entre nós, é uma afirmação que faz sentido. Afinal de contas, então, qual é o regime de governo da Igreja? É uma democracia? Não. É uma aristocracia? Não. É uma monarquia? Também não. Trata-se de um regime misto: há nele as três formas ao mesmo tempo. Monarquia, porque há um rei, o Supremo Pontífice, primus inter pares, com quem todos mantêm a comunhão. Aristocracia, porque esse rei não governa sozinho, mas com o suporte dos bispos, os príncipes da Igreja, homens santos e sábios — em tese, é claro. Democracia, porque, servindo aos príncipes, há uma massa de sacerdotes, homens de todos as raças, nações e classes sociais. O sacerdócio é democrático por ser aberto a todos que o desejarem. 

Cada bispo governa com certa autonomia a sua diocese, um pequeno feudo que desfruta de igual dignidade ante os outros. A subida na hierarquia não se dá por revoluções nem carreirismos — novamente, em tese. Escolhe-se o bispo dentre aqueles dispostos ao martírio, homens santos, de elevada honra e sabedoria. Um sacerdote que almeje o bispado torna-se, ipso facto, inapto para o cargo, por lhe faltar a virtude da humildade. 

Uma estrutura assim, apesar de todos os percalços internos e tempestades, durou (e dura) mais de dois mil anos. Trata-se de uma forma de organização tremendamente eficiente, donde o êxito formidável que, séculos depois, alcançaria uma instituição que a imitou exemplarmente, porém com intenções perversas: o Partido Comunista. Este possui um monarca, o líder, o secretário-geral, o “timoneiro”, o “guia genial dos povos” — um Stálin da vida. Cercando-o, bajulando-o, ajudando-o, a cúpula, o colegiado, a corte que o sustenta — a oligarquia. Por fim, existe uma democracia, na medida em que qualquer zé-ruela pode filiar-se ao Partido. A arraia-miúda dos seus membros, composta boa parte dos apparatchiks, só sobe na hierarquia por uma lealdade proporcional à sua psicopatia. Tal como na Igreja, o alpinismo social individualista dentro da organização é radicalmente condenado.

Por Paulo de Tarso Ferreira

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