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LUTO: Escritor italiano, Umberto Eco, morre aos 84 anos

O escritor italiano Umberto Eco, autor de "O Nome da Rosa", morreu aos 84 anos.

A informação foi noticiada pela imprensa italiana.

Umberto Eco era semiólogo, filósofo e prolífico escritor. Em 1988, ele fundou o Departamento de Comunicação da Universidade de San Marino.

Desde 2008 era professor emérito e presidente da Escola Superiro de Estudos Humanísticos da Universiade de Bolonha.

Seu último livro, "Numero Zero", foi lançado em 2015. Nascido em Alexandria, na região do Piemonte, norte da Itália, Eco também foi uma das principais referências no estudo da Semiótica.

Confira abaixo um artigo que o italiano havia escrito em 2012, cujo título é "A sociedade atual está menos preparada para a morte"

A "Magazine Littéraire", uma publicação mensal da França, dedicou um número recente a um único assunto: como a literatura trata o tema da morte. Eu o li com interesse, mas afinal fiquei desapontado. Alguns artigos podem ter tocado ideias com as quais não tinha familiaridade, mas em última instância eles apenas reiteraram uma tese bem conhecida: que além de abordar a ideia do amor a literatura sempre lidou com o conceito de morte.

Os artigos apontavam a presença da morte tanto nas narrativas do século passado como na literatura gótica pré-romântica, mas também poderiam ter citado a mitologia grega – talvez a morte de Heitor e o luto de Andrômaco – ou o sofrimento dos mártires em muitos textos medievais. Para não falar no fato de que a história da filosofia começa com a premissa do mais fundamental dos silogismos: "Todos os homens são mortais".

Talvez o problema tenha origem no fato de que as pessoas leem menos livros hoje do que nas gerações passadas. Seja qual for a causa, porém, perdemos nossa capacidade de aceitar a morte. A religião, a mitologia e os antigos rituais tornavam a morte, senão menos temível, pelo menos mais familiar para nós. Através de grandes celebrações fúnebres, do lamento dos enlutados e das grandes missas de réquiem, nos habituávamos ao conceito de morte. Éramos preparados para ela pelos sermões sobre o inferno, e ainda criança fui incentivado a ler trechos do "Companheiro da Juventude" que abordavam a morte.

Aquele texto, um manual de orações editado pelo padre do século 19 Dom Bosco, era um lembrete de que não sabemos onde ou quando a morte nos levará – em nossa cama, no trabalho, na rua; com um aneurisma estourado, uma febre, um terremoto ou algo totalmente diferente. Naquele momento sentiremos a cabeça atordoada, os olhos doloridos, a língua seca, as mandíbulas travadas, o peito pesado, o sangue congelado, a carne consumida, o coração traspassado. Daí a necessidade de praticar o que Dom Bosco chamou de Exercício para uma Morte Feliz: "Quando meus pés imóveis me disserem que minha carreira nesta vida está prestes a terminar… Quando minhas mãos trêmulas e insensíveis não puderem mais te segurar, oh, meu bom Crucifixo, e a contragosto eu o deixar cair sobre meu leito de sofrimento… Quando meus olhos estiverem enevoados e distraídos pelo horror da morte iminente…

Quando minhas faces pálidas e cinzentas despertarem compaixão e terror nos que me virem, e meu cabelo, molhado e eriçado com o suor da morte, anunciar a proximidade do meu fim… Quando minha imaginação, agitada pelos horrendos e assustadores fantasmas, afundar em tristeza mortal… Quando eu tiver perdido o uso de todos os meus sentidos… gracioso Jesus, tem piedade de mim."

Isso é puro sadismo, alguém poderia dizer. Mas o que ensinamos a nossos contemporâneos hoje? Que a morte ocorre longe de nós, em hospitais, que os enlutados não necessariamente acompanham o caixão até o cemitério, que não vemos mais os mortos. Ou melhor, nós os vemos constantemente – sendo espancados, alvo de tiros ou explosões; caindo para o fundo de um rio com os pés metidos em concreto; deitados inertes na calçada, com as cabeças rolando na rua. Mas esses não são nossos próximos e queridos; são atores.

A morte é um espetáculo – certamente nos filmes e na televisão, mas também na vida real. Devoramos reportagens na mídia sobre uma jovem que foi estuprada e assassinada, ou sobre as vítimas de um "serial killer". Não vemos os corpos torturados, porque isso nos lembraria nossa própria morte. Mas vemos amigos em prantos levarem flores a um local de crime ou montando uma vigília à luz de velas. Ou, muito mais sádico, vemos repórteres baterem à porta de uma mãe enlutada para perguntar como ela "se sentiu" quando soube da morte do assassino de sua filha. A morte em si é mostrada apenas indiretamente, através de imagens de amizade e dor materna, o que nos afeta de forma menos visceral. A morte quase desapareceu de nosso horizonte de experiência imediato.

O resultado é que a maioria das pessoas ficará muito mais aterrorizada quando chegar a hora de enfrentar o acontecimento que é nosso destino desde que nascemos – um destino que homens mais sábios passaram suas vidas inteiras tentando aceitar.

 

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