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Denúncia da Procuradoria de Roma coloca atuação da Polícia Italiana em xeque

A Procuradoria de Roma denunciou três carabineiros por abuso de autoridade e homicídio preterintencional – quando há dolo na ação, mas ela resulta mais grave que o esperado – no caso do geômetra italiano Stefano Cucchi.

O italiano foi morto em 22 de outubro de 2009, enquanto estava sob custódia do Estado. 

Segundo a Promotoria, os policiais Alessio Di Bernardo, Raffaele D'Alessandro e Francesco Tedesco "espancaram" a vítima com tapas, socos e chutes e provocaram a queda que acabaria determinando seu falecimento, uma semana depois.   

Em 15 de outubro de 2009, Cucchi foi flagrado em Roma com 20 gramas de haxixe e detido pelos carabineiros, que o levaram para a penitenciária de Regina Coeli, a maior da capital italiana.  

 

Nos dias seguintes, foi internado na ala protegida do hospital Sandro Pertini, também na "cidade eterna", onde morreu.   

A autópsia, cujo resultado foi divulgado meses mais tarde, revelou que o geômetra, que tinha 31 anos e 1,76m de altura, pesava 37 kg quando faleceu, indicando um estado de desnutrição.   

Nas semanas seguintes, circularam notícias de que Cucchi era viciado em drogas, soropositivo e anoréxico, e tentou-se atribuir a morte a suas "frágeis" condições de saúde.   

No entanto, descobriu-se que ele estava com diversos hematomas no corpo, inclusive na região dos olhos – durante todo o período de internação, a família tentou ter acesso a ele, mas sem sucesso. Os parentes do geômetra chegaram até a divulgar fotos tiradas no obituário para mostrar os traumas no rosto de Cucchi e um evidente estado de desnutrição.   

No primeiro processo, seis médicos e três enfermeiros foram acusados de abandono de incapaz, e três membros da Polícia Penitenciária, de lesões agravadas e abuso de autoridade. A denúncia apontava que os carcereiros haviam usado força excessiva contra a vítima e que os agentes de saúde tinham-no deixado morrer de fome. Todos acabaram absolvidos por falta de provas.   

Contudo, em dezembro de 2015, a Procuradoria de Roma iniciou uma nova investigação contra carabineiros que teriam agredido Cucchi após sua prisão e realizado uma "estratégia científica" para "atrapalhar a correta reconstrução dos fatos".   

Uma perícia realizada no ano passado reconheceu a existência de fraturas no corpo do geômetra, mas concluiu que a morte também pode ter sido causada por um "inesperado ataque de epilepsia" em um homem que sofria desse problema havia tempos.   

A família rechaçou essa hipótese, assim como a Procuradoria de Roma, que concluiu o novo inquérito nesta terça. "As lesões registradas em Stefano Cucchi, o qual, durante a internação no hospital Sandro Pertini, teve uma notável perda de peso porque não se alimentava corretamente e pelo trauma sofrido, levaram à morte", diz a denúncia dos promotores Giuseppe Pignatone e Giovanni Musarò.   

A vítima tinha fraturas na vértebra, inchaços e hematomas no rosto, hemorragia na pélvis e escoriações nas pernas. Para a Procuradoria, a conduta "omissa" dos médicos que cuidavam de Cucchi também contribuiu para o falecimento. Além dos três carabineiros que prenderem o geômetra e foram denunciados por homicídio preterintencional, outros dois podem responder por calúnia e falso testemunho.   

"Não sei como será o caminho que nos espera daqui para frente, mas seguramente se falará finalmente a verdade, ou seja, que houve homicídio", declarou Ilaria Cucchi, irmã da vítima.   

"Deixamos para trás sete anos duríssimos, de dor, de sacrifícios, de tantas lágrimas amargas. Mas valia a pena continuar acreditando", acrescentou.   

As denúncias agora serão analisadas pela Justiça, que pode acolhê-las ou não. De qualquer forma, o caso coloca em xeque a atuação da Polícia, do sistema de saúde e do próprio poder Judiciário, que até hoje não condenou nenhuma pessoa pela morte de um cidadão que devia ter sido protegido pelo Estado.

 

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