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União Europeia alerta programas na Itália sobre participação de russos

A presença recorrente de jornalistas de veículos estatais da Rússia em talk shows na Itália entrou na mira da União Europeia, que afirmou que as emissoras dos Estados-membros do bloco não podem permitir a “incitação à violência” em seus programas.

Programas de auditório italiano passaram a ser alvos de questionamentos por receber jornalistas ou autoridades da Rússia e permitir, sob os argumentos da liberdade de expressão e da necessidade de se ouvir todos os lados, que os convidados espalhem desinformação sobre a guerra na Ucrânia, muitas vezes sem nenhuma contestação.

Questionada sobre o assunto, a Comissão Europeia, poder Executivo da UE, disse que a participação de jornalistas de veículos sancionados pelo bloco, como Sputnik e Russia Today, precisa sempre ser “contextualizada”.

“As emissoras da UE e dos Estados-membros não podem permitir a incitação à violência ou ao ódio em seus programas”, afirmou um porta-voz da Comissão Europeia, acrescentando que tanto Sputnik quanto Russia Today são alvos de sanções por “desinformação”.

“A liberdade de expressão é de fundamental importância, mas aqui não se trata de censurar opiniões. Os jornalistas não são alvos de sanções, porém existe uma cláusula de não evasão, e essa cláusula se aplica também aos jornalistas. A liberdade de expressão não pode ser usada por outros veículos para fugir das sanções”, explicou o porta-voz.

A abordagem dos talk shows da Itália sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia também é alvo de apurações da Comissão Parlamentar para a Vigilância dos Serviços de Rádio e TV, que se concentra sobretudo na emissora pública Rai.

O comitê do Parlamento italiano quer determinar se jornalistas convidados podem ser considerados funcionários do regime de Vladimir Putin. “A Rai poderia dar mais espaço aos jornalistas russos que tiveram o espaço cassado, ao invés de convidar aqueles que são, na prática, funcionários do Ministério da Defesa russo”, disse o deputado de centro-esquerda Andrea Romano.

Ele fazia referência à participação no programa Cartabianca, da Rai, da jornalista Nadana Fridrikhson, do canal Zvezda, controlado pelo Ministério da Defesa de Moscou.

Outro episódio ocorreu quando o ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, concedeu uma longa entrevista ao canal Rete 4, do grupo privado Mediaset, comandado pelo ex-premiê Silvio Berlusconi.

Na ocasião, o chanceler foi pouco contestado pelos jornalistas presentes e disse até que “Hitler tinha origens judaicas”, declaração que provocou repúdio em Israel. “A intervenção de Lavrov, pela forma como ocorreu e pela montanha de fake news, confirma nossas preocupações”, disse o presidente do Comitê Parlamentar para Segurança da República (Copasir), Andrea Urso.

Já o ex-premiê Enrico Letta, líder da centro-esquerda italiana, chamou de “inaceitável” a concessão de espaço para Lavrov fazer “propaganda de guerra contra a Ucrânia”.

O diretor-geral de informação do grupo Mediaset, Mauro Crippa, rebateu as críticas. “As afirmações delirantes de Lavrov têm importância porque confirmam claramente a falta de vontade da parte de Putin para chegar a uma solução diplomática. Lavrov é o número dois da Federação Russa. A entrevista é um documento que fotografa a história contemporânea”, declarou.

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