
O cantor e compositor Zucchero Fornaciari celebrou seu 70º aniversário de uma forma que mais lhe agradou e no local que se tornou sua segunda casa musical: a Arena de Verona, onde há anos ele acostuma seus fãs a séries recordes de apresentações consecutivas ao vivo, sendo neste ano 12 shows.
Não é difícil imaginar que ele deve estar pensando em quanto caminho percorreu desde que começou a tocar na igreja, ainda menino, com a ajuda do pároco de Roncocesi, na província de Reggio Emilia, mas também em quantos quilômetros ele realmente percorreu ao redor do mundo em sua carreira como apóstolo italiano da música soul-blues, quase como se quisesse viver o título daquela canção de Marvin Gaye que tanto sucesso trouxe ao seu amigo Paul Young: “Wherever I Lay My Hat (That’s My Home)”.
E, finalmente, se for necessário refletir sobre a jornada que ele fez, a de Adelmo Fornaciari é a história de um homem que não desistiu e que, após um longo e difícil aprendizado e muitas portas fechadas, levou sua música ao redor do mundo e se apresentou com um número impressionante de estrelas.
De Miles Davis a Eric Clapton, de seus amigos Bono e Sting a Joe Cocker, B.B.
King, Sam Moore, John Lee Hooker, Paul Young, para citar apenas alguns.
Em última análise, se Luciano Pavarotti, outro amigo ilustre, inventou “Pavarotti & Amigos”, também se deve a ele a ideia de gravar “Miserere”, sem mencionar que a faixa de teste foi gravada por um então desconhecido Andrea Bocelli, que se tornou um astro global.
Zucchero também recusou sabiamente o convite de Brian May para se juntar ao Queen reformado como vocalista após a morte de Freddie Mercury. O italiano tem um repertório praticamente ilimitado de anedotas: seu primeiro encontro com Miles Davis é hilário.
Os dois deveriam gravar “Dune Mosse” e uma limousine o buscou no hotel em Nova York onde ele estava hospedado. Profundamente comovido, entrou no carro e, enganado pela penumbra e pelo fato de o divino Miles estar de terno preto, sentou-se em seu colo.
Para a música italiana, o artista representa uma feliz anomalia, pois seu sucesso está atrelado à sua reinterpretação de modelos clássicos do soul e do blues, e internacionalmente, pouquíssimos conseguiram fazer isso fora dos Estados Unidos e da Inglaterra.
Seu ingrediente secreto é provavelmente o amor pela música cantada e composta, que ele cuidadosamente incorpora ao seu repertório de música negra. Dos tempos de Peppone e Don Camillo, ele certamente conserva um carinho por Peppone: não é por acaso que se apresentou no Kremlin durante o reinado de Gorbachev, quando o Muro ainda estava de pé, e, após gravar um álbum de homenagens à música cubana, em Havana, onde, durante uma conversa com o Malecón ao fundo, seus olhos brilharam ao recordar a juventude de Fidel, Che Guevara e Camilo Cienfuegos.
Como outros grandes nomes, Zucchero não teve sorte competindo em Sanremo: depois de ser ignorado em 1982, quando Vasco Rossi também estava no elenco, ninguém notou “Donne” no festival de 1985, o que abriu caminho para seu sucesso. Mas, além de suas aparições como convidado especial, ele teve um retorno retumbante em 2001, quando cantou as músicas que ficaram em primeiro e segundo lugar: “Luce (Tramonti a Nord Est)”, de Elisa, e “Di sole e di azzurro”, de Giorgia.
Zucchero é cidadão honorário de Memphis e esta é provavelmente a honra mais próxima de seu coração, além de ser um Comendador da Ordem do Mérito da República Italiana.