Catolicismo Romano

Padre Fábio Fernandes, grande exemplo de um sacerdote vocacionado

(Retratação, conforme advertência, a pedido de Dom Odilo, entregue dia 1° de novembro, para que fosse publicada até dia 06 de novembro de 2023).

“Haec quotiescumque feceritis in meam memoriam facietis!”

(Todas as vezes que fizeres isto fazei-o em minha memória)

Caríssimos fiéis! Salve Maria!

Uma advertência, escrita por Dom Odilo, me foi entregue no dia primeiro de novembro, última quarta-feira, pelas mãos do bispo auxiliar Dom Rogério, na sede regional da cúria.

A advertência trata de pedir uma retratação pública pela minha “desobediência” em ter rezado o Santo Sacrifício da Missa, conforme desejo e necessidade dos fiéis, segundo o missal tridentino, na festa de Cristo Rei, dia 29/10, domingo, às 10h, após Dom Odilo ter me proibido na noite anterior, por telefone, de rezar esta missa. A retratação, em suma, diz respeito ao seguinte: me retratar por ter rezado a missa tridentina, sobretudo, após a proibição de Francisco com o motu proprio Tradiciones Custodes, de modo a não mais rezá-la e me comprometendo a partir de agora apenas celebrar a missa nova de Paulo VI.

Pois bem, depois de rezar, meditar e refletir por alguns dias e ponderando muitas questões cruciais, resolvi me pronunciar publicamente de modo a me retratar de coração diante da Igreja, do clero e dos fiéis!

Me retrato e peço perdão pelo erro que cometi por muitos anos, a maior parte dos meus quase quinze anos de sacerdócio, de ter celebrado a missa nova segundo o missal de Paulo VI. Eu peço perdão a todos os meus amigos padres e fiéis, com tristeza, com vergonha e com ânimo contrito, dando a devida satisfação que devo a todos e vou explicar o “porque”!

Eu nasci em 1981, pouco menos de vinte anos após a conclusão do Concílio Vaticano II e dez anos após a publicação do missal de Paulo VI. A primeira pessoa, me lembro bem, a me falar sobre Deus foi a minha mãe, eu ainda infante. A primeira pessoa a me ensinar o catecismo foi meu pai, que era um católico fervoroso, de boa doutrina, muito religioso e me ensinou os rudimentos da fé utilizando imagens que uma criança poderia entender, me ensinando sobre o Santo Sacrifício e a presença real de Nosso Senhor na Sagrada Eucaristia. Em casa, meus pais, com minha vó e outros parentes nas conversas em família falavam de quando o padre rezava a missa “de costas” e que rezava em latim, o lindo canto gregoriano, as esplendorosas liturgias, a piedade, o véu, a saia das mulheres, o terno dos homens, o terço nas mãos, o incenso, o respeito que existia etc. E contavam as histórias dos padres que conheceram, fatos do Mons. João P. Fusening e do Cônego Antônio Munari, pároco (de nossa paróquia), que quando alí chegou rezava a missa em latim. Eu ficava ouvindo as conversas e lembro que me sentia maravilhado imaginando as cenas como que “vivendo” em minha mente aquilo tudo. Quando na igreja, eu olhava para o altar mor, tentava enxergar aquilo que ouvia em casa. Quando entrei para a catequese, minha mãe me deu o devocionário “Orai” antigo, capa preta e de bolso, da primeira comunhão dela. Alí eu conheci o ordinário da missa antiga e ficava lendo, tentando rezar e pensando o quanto era diferente da missa que eu frequentava e me perguntava sobre a razão de ter mudado algo tão interessante e bonito como diziam em casa. Tinha uma bíblia ilustrada em casa que continha as imagens da missa antiga na sequência das cerimônias e eu com o devocionário tentava seguir passo a passo.

Na minha paróquia de origem, Mons. Silvio de Moraes Matos, rezou a missa tridentina de 1988 até sua morte em 1993. Me lembro dele chegando de batina e me dando a benção enquanto estava saindo da igreja com meu pai, e eu pensava: “ele vai celebrar a missa em latim, que pena que tenho que ir embora”. A missa que meu pároco celebrava na minha paróquia de origem São Joaquim do Cambuci, que os antigos e piedosos padres jesuítas celebravam na paróquia de São Gonçalo, que o Cônego José Mayer Paine celebrava na paróquia de Santa Generosa era já a “missa nova” mas, esta era rezada por estes sacerdotes de formação anterior à reforma litúrgica e que mantinham a piedade, a devoção e o fervor nos gestos e nas palavras, nas vestes e na postura em razão da formação antiga e sólida, e não tinham a consciência e a leitura da crise da Igreja que temos hoje. Mesmo não concordando com as mudanças do Concílio, estes padres santos também tinham medo das punições porque não tinham o respaldo de ninguém, porém, mantinham a fidelidade à fé católica o tanto quanto podiam rezavam a missa com o espírito sacrifical da missa tridentina que receberam “de berço”. Foi assim que senti a vocação sacerdotal sem nem sequer ainda saber o que era a missa de sempre: eu não a conhecia, mas, a percebia e sem saber a desejava. Não foi o rito da missa nova (hoje eu entendo), mas, a piedade daqueles padres me fizeram perceber que existia algo além, fascinante e misterioso, tinha algo por detrás, e que eu precisava buscar.

Entendi da doutrina do catecismo que a santa missa é a renovação incruenta do santo sacrifício do calvário. Daí então, concluí na época que o santo sacrifício tinha que estar ali naquela missa nova mesmo, pois, na minha compreensão, só tinha ela e meu pároco e os padres que eu conhecia a celebravam com piedade, com espírito sacrifical e sacerdotal. E foi assim, com esse pensamento, que então ingressei no seminário.

No ano seguinte, após minha entrada no seminário, meu pároco já muito doente, insistentemente me entregou um livro antigo, de capa grossa, com folhas amareladas para que eu levasse pra casa. Eu não queria ficar com o livro dele, mas, insistiu tanto comigo que eu levei. Quando cheguei em casa eu abri o livro e era o “Curso de Liturgia” do Pe. João Reus, que meu pároco utilizou durante os anos de seminário, que ensinava passo a passo como celebrar a santa missa, a missa tridentina. Após quatro anos da morte de meu pároco, Bento XVI, em 2007, restaura o uso do missal tridentino e eu tinha em minhas mãos o livro que ensinava celebrar a missa tridentina e, estudei por conta no seminário, durante pelo menos um ano, como celebrar a missa tridentina.

Durante todos os anos de seminário, durante as missas diárias, eu usava meu missalzinho cotidiano seguindo as orações com o ordo missae da missa de sempre com o propósito de me imbuir da piedade, interiorizar a devoção e absorver toda a sacralidade do rito romano, de assimilar e me apropriar interiormente de todo o espírito sacrifical e sacerdotal da missa de São Pio V para que, uma vez ordenado padre, rezasse a santa missa com toda dignidade possível e toda atividade sacerdotal e de apostolado estivesse impregnado desse espírito católico e não me contaminasse com as tendências errôneas que já percebia em torno.

Eu vi a destruição espiritual em minha paróquia de origem durante a doença do meu pároco. Acabara de vez o respeito, a sacralidade, a piedade e a reverência dentro da igreja. Entrou a imodéstia, o barulho insuportável dos instrumentos musicais e dos gritos ao microfone, ninguém mais se confessava, ninguém mais rezava, as almas piedosas ficaram escandalizadas e se afastaram. Eu travei uma verdadeira luta contra tudo isso em vão e, hoje entendo, que toda a força destruidora estava além do padre moderninho que chegou, estava além daquelas pessoas confusas, toda a catástrofe espiritual estava na missa nova porque a mesma é impenetrável a sacralidade e a integridade da fé católica e, ao mesmo, ela absorve todas as tendências e erros presente nos espíritos.

Todos esses anos foram tempos de intensas contrariedades e muito combate! Eu sempre fui acusado de celebrar uma missa nova “tridentina” por celebrar com sacralidade, com espírito sacrifical, de acordo com a natureza católica da missa e com as cerimônias próprias da tradição do rito romano. Colocar e manter o espírito sacrifical na missa nova sempre foi uma batalha contra um exército a cada dia, mas, eu não entendia as causas e nem a razão dos problemas, até que depois de muitos anos, com o crescimento da aceitação da missa de sempre em escala mundial, com a publicação dos bons livros, artigos e os vídeos comecei a perceber que o santo sacrifício não pode estar teologicamente alí na missa nova e, portanto, por mais que você tente, não consegue inserir o catolicismo alí, ela sempre será uma espécie de missa protestante ou ceia comemorativa judaica, visto que, quem fez o novo missal alterou os elementos teológicos e, mudando a natureza católica e teológica da missa, com tendência e ecumenista, deixa esta de ser a renovação do Santo Sacrifício!

E aqui está o “porque” de me retratar pedindo perdão de coração sincero por ter celebrado a missa nova durante tanto tempo e, por ignorância, de alguma forma ter levado os fiéis ao erro! No meu

caso a ignorância é culposa porque tive os meios a dispor com a oportunidade de estudar, de conhecer pessoas capacitadas, de ler os livros e mesmo assim não enxergava. Como pude ser tão cego, tão ignorante? Me perdoem!!

Hoje, graças de Deus, tudo pra mim é muito claro e objetivo! Na verdade, não foi simplesmente uma busca pessoal, mas, a graça de Deus Nosso Senhor e a materna intercessão de Nossa Senhora que foi me conduzindo e me deu o privilégio de me encontrar com o Santo Sacrifício do Senhor, o tesouro da Tradição, que é a missa tridentina, a missa de sempre! Aqui está a remissão dos pecados, a razão de ser da Santa Igreja, a causa da missão e do apostolado do sacerdote, o reinado de Nosso Senhor Jesus Cristo e a salvação das almas. Ao me deparar com a missa tridentina encontrei com o que Nosso Senhor nos deixou e com o que a minha alma buscava, de modo que, posso afirmar como Adão disse ao avistar Eva: “esta sim é carne de minha carne e ossos de meus ossos”. O sacerdote é para o sacrifício e o sacrifício para o sacerdote! Portanto, posso dizer sobre a missa tridentina: esta sim é vida de minha vida, e alma da minha alma! Quando encontrei a missa tridentina, encontrei a verdadeira Santa Igreja, indefectível, Esposa de Cristo, sem ruga e sem mancha e, que, portanto, nela não há confusão porque, na fé, a mesma não erra e não pode ensinar o erro, de modo infalível só ensina a verdade e o certo, segundo Cristo que é a Cabeça, por sua própria natureza e condição teológica! Salvei minha vocação, que possa agora salvar a minha alma e salvar as almas!

Meu pai não me viu padre, faleceu antes de eu entrar no seminário, mas, quando eu lhe disse que queria ser sacerdote ele chorou e me disse: “não há ofício mais grandioso e excelente na face da terra do que passar a vida inteira fazendo o bem, como fez Nosso Senhor!” Minha mãe me viu padre e viveu ainda mais seis anos e faleceu orgulhosa de ter um filho sacerdote. No leito de morte eu disse a ela: “mãe, pela maternidade meu deste a vida natural e, pelo meu sacerdócio, eu te dou a vida eterna!”

Diante de tudo isso, o que posso de diferente oferecer a Deus Nosso Senhor no altar do que o Santo Sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo, tal qual ele ofereceu com seu Corpo e Sangue e instituiu no sacramento da eucaristia? O que posso proporcionar aos fiéis a não ser aquilo que Ele mesmo mandou fazer em sua memória e chegou até nós pela Igreja na missa de São Pio V? Posso fazer algo diferente do que a Igreja, depositaria da fé, definiu e ordenou proibindo terminantemente mudar, acrescentar ou tirar?

Desculpem minha ignorância no passado, por ter feito por tantos anos um ofertório a um tal de “deus do universo” proveniente de uma “divindade” qualquer ligada à natureza criada e de ter oferecido o pão como o “fruto da terra” e o vinho como o “fruto da videira” e “do trabalho do homem”, simples oferendas profanas, sem sacralidade, sem o sobrenatural. Me desculpem por ter feito a consagração daquela maneira (por ignorância, pois, tinha a intenção de consagrar), sobretudo, em relação a consagração do cálice, fazendo uma simples narração da ceia como discorre o texto bíblico, sem o “mistério da fé” que é o mistério da nova e eterna aliança no Seu Preciosíssimo Sangue, agindo outrora completamente em desacordo com o que foi definitivo pela Igreja e que ordenou não fosse alterado!

O que desejo proporcionar aos fiéis, com retidão de intenção, é o oferecimento do Santo Sacrifício tal qual Nosso Senhor instituiu e a Santa Igreja guardou e na qual não há mistura com erro. No ofertório da missa de sempre se oferece não o pão da padaria e o vinho da adega que é o “fruto da terra e do trabalho do homem”, mas, a “hostia Imaculada” e o “cálice da salvação” em que as espécies estão separadas, abençoadas, presente já alí o sacrifício na vítima oferecida e, que pela consagração, se realiza a transubstanciação que torna toda a espécie do pão e do vinho, no Corpo e no Sangue do Senhor! O sacrifício é oferecido a “um só Deus”, vivo e verdadeiro, eterno e todo-poderoso, “criador de todas as coisas visíveis e invisíveis” de modo que o verdadeiro Deus não é e nem pode ser um “deus do universo” porque Deus não é criado, não vem da criatura, é de substância divina e eterna, Ele é trino, Ele é Encarnado, Ele é “Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro. Gerado, não criado”. Na missa de sempre os erros são impenetráveis de modo que aqui está o mistério da fé, a nova e eterna aliança no Preciosíssimo Sangue do Senhor, a fé íntegra e sem mistura com nada que possa trazer confusão e embaraço para o sacerdote e para os fiéis.

Antes da minha ordenação sacerdotal a família de meu pároco, Pe. Antônio Munari, graciosamente me deu o seu cálice de ordenação para que fosse o cálice da minha ordenação. E, neste cálice, está inscrito: “Hic est enim cálix sanguinis mei” (“Este é pois o cálice do meu sangue”) e, escolhi essas sacratíssimas palavras como lema de minha ordenação e como sentido sacerdotal para a vivência de meu ministério com o propósito de colocar, com a gota de água no cálice com vinho, o sacrifício dos fiéis, mas, também, colocar a minha vida no cálice do Senhor, de modo a esgotá-lo em sacrifício por amor ao Senhor, com a graça de Deus e apesar de minhas debilidades e dos meus pecados! Aqui, renovo a minha profissão de fé católica e, renunciando a satanás e suas obras, renunciando aos erros do modernismo e afirmando, com toda consciência e convicção, que na missa de sempre está a fé católica integral, tal qual a Igreja preservou intacta em depósito e sem erros, de modo que, aqui estou no Corpo Místico de Cristo, na comunhão dos santos, na Santa Igreja Católica, na única Igreja de Cristo fora da qual não há salvação, de forma que não estando no erro não posso levar as almas ao erro, mas, na solidez da certeza da fé e da salvação, em meio às confusões e dissensões da crise atual da Igreja, busco manter, a mim e aos meus fiéis, sempre católicos!

Aqui concluo esta retração manifestando com muita humildade, aos meus colegas e amigos sacerdotes, que sei que têm boa fé, são zelosos, amam a Igreja, mas, estão prostrados diante dos erros e cheios de medo porque temem as punições, eu os exorto com humildade e como irmão, que se mantenham firmes na fé católica e deixem os erros contra a fé, os mesmos que o senhores não concordam, mas, não se sentem fortes para combater por falta de respaldo humano: se imolem, se sacrifiquem, não tenham medo, o sacerdote é para o sacrifício e o sacrifício é para o sacerdote, despertem da cegueira culposa, se retratem diante da verdadeira Igreja com humildade, repletos de fervor e ardorosos, com coragem, se entreguem ao suplício por amor de Nosso Senhor, por Nossa Senhora, pela Santa Igreja, pelas almas! Iremos perder carreira eclesiástica, prestígios, privilégios, comodidades, mas, depois de provados com incompreensões, perseguições e tribulações, assistidos pela graça de Deus e pela providência divina, ganharemos a vida eterna em Sua misericórdia e levaremos as almas para o céu!

“Novi et aeterni testamenti! Novi et aeterni testamenti! É o padre que recita estas palavras na consagração do  Preciosíssimo Sangue: ‘Hic est enim cálix sanguinis mei, novi et aeterni testamenti’

A herança que Jesus Cristo nos legou é o seu sacrifício, é seu sangue, é sua cruz. E isso é o fermento de toda a civilização cristã e do que nos deve conduzir ao céu. Então, eu lhes digo:

Para a glória da Santíssima Trindade!

Pelo amor de Nosso Senhor Jesus Cristo!
Pela devoção à Santíssima Virgem Maria!
Pelo amor da Igreja!
Pelo amor do Papa!
Pelo amor dos bispos! Dos padres! De todos os fiéis!
Pela salvação do mundo!
Pela salvação das almas!

Guardem esse testamento de Nosso Senhor Jesus Cristo! Guardem o Sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo! Guardem a missa de sempre!

E, em alguns instantes, vou pronunciar estas palavras sobre o cálice da minha ordenação e como vocês querem que eu pronuncie sobre o cálice da minha ordenação palavras diferentes daquelas que pronunciei há cinquenta anos sobre esse cálice? Isso é impossível! Eu não posso mudar essas palavras!

Então continuaremos a pronunciar as palavras da consagração como nossos predecessores nos ensinaram, como os bispos, como os Papas, os padres que foram nossos educadores nos ensinaram, afim de que Nosso Senhor Jesus Cristo reine e que as almas sejam salvas, pela intercessão de nossa boa Mãe do céu!”

Dom Marcel Lefebvre.

“Guardem a missa de sempre!!!”

Christus vincit!
Christus regnat!
Christus imperat!
Viva Cristo Rei!
Dia 06 de novembro, do ano da graça do Senhor, de 2023.
Segunda-feira. Féria da vigésima terceira semana depois de pentecostes.
Pe. Fabio Fernandes.
Pároco.
Paróquia de Nossa Senhora das Angústias.
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