Um dos chefs mais prestigiados da Itália provocou polêmica no mundo culinário ao devolver as estrelas Michelin que havia ganhado. Ezio Santin, que dirige a cozinha da premiada Antica Osteria del Ponte, nos arredores de Milão, disse que não precisava das famosas estrelas para fazer sucesso.
"Recebemos fregueses do mundo todo e, graças à Internet, podemos continuar atraindo pessoas", disse Santin à Reuters.
O anúncio de Santin foi feito depois de seu colega, o também italiano Gualtiero Marchesi, rejeitar a distinção do Michelin no ano passado.
Marchesi foi o primeiro chef italiano a conquistar três estrelas do Michelin com seu restaurante sofisticado nas colinas da Lombardia. Mas ele se queixou de que o guia favorecia os restaurantes franceses em detrimento dos italianos, e retirou-se publicamente da participação no sistema.
A sugestão de que as célebres estrelas estão perdendo sua credibilidade foram refutadas pelo Michelin, cujo representante em Milão rebateu as críticas de chefs "idosos" que questionaram o guia.
"Eles eram chefs excelentes mas, especialmente nos restaurantes de Marchesi, a comida já não é mais o que costumava ser", disse Fausto Arrighi, diretor do Guia Vermelho Michelin em Milão.
"Hoje eles já estão idosos e estão certos em pensar em se aposentar", disse ele à Reuters.
Santin, que tem 72 anos, comanda o restaurante com a ajuda de sua mulher, Renata, que rebateu as sugestões de que os dias deles estejam contados.
"Quando Ezio e eu decidirmos que vamos fechar nosso restaurante nós o faremos, mas será uma decisão nossa", disse ela, falando ao telefone desde a Antica Osteria.
Renata disse que Santin não quer mais trabalhar tanto para satisfazer às exigências sigilosas do guia.
"Após 33 anos neste ramo, estamos cansados de ter a obrigação de agradar a inspetores", disse.
O casal vê o rompimento com o Michelin como ato de libertação e oportunidade para mudanças.
"Queremos a liberdade de cozinhar o que quisermos", disse Santin. "Depois de tantos anos, queremos levantar de manhã e criar cardápios novos e instigantes para cada dia".
Seis restaurantes italianos receberam três estrelas, a nota máxima, no guia Michelin deste ano, contra 11 em Tóquio. A capital japonesa passou à frente de Paris como a cidade com o maior número de restaurantes três estrelas.