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Conheça Giorgia Meloni, a deputada de extrema-direita que surge como favorita em eleição na Itália

Matteo Salvini dominou o campo conservador na Itália nos últimos quatro anos, primeiro como ministro do Interior, depois como líder da oposição e por fim como um dos fiadores – e algozes – de Mario Draghi, mas ganhou uma adversária de peso em sua ambição de se tornar premiê da terceira economia da União Europeia.

E essa rival não vem da esquerda nem do centro, mas sim da mesma área soberanista que é encabeçada por Salvini desde 2018.

Giorgia Meloni, 45 anos, é jornalista, deputada, ex-ministra de Silvio Berlusconi e fundadora e presidente do partido ultranacionalista Irmãos da Itália (FdI), que superou a Liga, sua coirmã na direita populista, e lidera a maioria das pesquisas de intenção de voto para as próximas eleições.

A última sondagem de opinião divulgada na Itália, do instituto SWG, coloca o FdI com 23,8% da preferência, em empate técnico com o Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, com 22,1%. A Liga está apenas em terceiro lugar, com 14%, muito distante dos mais de 30% que chegou a ter até o início de 2020.

Esse é, de longe, o melhor momento vivido pelo FdI, partido cuja história está intrinsecamente ligada a Meloni.

Durante o pós-guerra, a Itália sempre teve uma grande legenda de direita, papel que coube na Primeira República (1948-1994) ao Movimento Social Italiano (MSI), de inspiração neofascista.

Em 1995, na Segunda República, o MSI foi rebatizado como Aliança Nacional (AN), sigla então liderada por Gianfranco Fini e que chegou a ter de 10% a 15% dos votos. Em 2008, no entanto, a AN se fundiu com o Força Itália (FI), partido personalista fundado e presidido por Berlusconi.

Naquele momento, a decisão de Fini causou incômodo dentro da Aliança Nacional e, em dezembro de 2012, um grupo de dissidentes, incluindo Meloni, fundou um novo partido chamado Irmãos da Itália.

“O FdI representa aquilo que uma vez foi o partido histórico da direita italiana”, disse à agência Ansa Roberto D’Alimonte, professor de sistema político italiano na Livre Universidade Internacional de Estudos Sociais (Luiss) Guido Carli, de Roma.

Presidido por Meloni desde 2014, o FdI incorporou inclusive a chama tricolor que fazia parte do emblema do MSI, partido que havia sido fundado por antigos membros do regime fascista de Benito Mussolini.

Trajetória

Nascida em Roma em 15 de janeiro de 1977, Giorgia Meloni se aproximou da política aos 15 anos da idade, quando aderiu à “Frente da Juventude”, organização juvenil ligada ao MSI.

Com o passar dos anos, galgou degraus na Aliança Nacional e foi eleita conselheira da província de Roma em 1998, ficando no cargo até 2002. Em 2006, conquistou uma cadeira na Câmara dos Deputados, onde está até hoje, tendo ocupado também o posto de ministra da Juventude do governo Berlusconi entre 2008 e 2011.

No mesmo ano em que foi eleita pela primeira vez ao Parlamento, deu uma entrevista na qual disse que tinha uma “relação serena com o fascismo”. Sobre Mussolini, afirmou que o ditador “cometeu diversos erros, como as leis raciais, a entrada na guerra e o sistema autoritário”.

“Historicamente, produziu muito também, mas isso não o salva”, declarou Meloni na ocasião. Ao assumir o comando do FdI, reconstruiu a classe dirigente que antes orbitava em torno da Aliança Nacional e ainda alcançou uma nova fatia do eleitorado por ter passado a última década sempre na oposição.

Salvini, por sua vez, governou com o antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S) entre 2018 e 2019 e foi um dos fiadores do premiê Mario Draghi, um dos grandes símbolos daquela União Europeia que a extrema direita sempre criticou.

Segundo D’Alimonte, Meloni capitalizou a insatisfação de grupos que vão de trabalhadores demitidos por causa da crise até autônomos penalizados pela pandemia, passando pelos antivacinas – a deputada disse que se vacinou contra a Covid, mas não tirou foto.

Meloni também tem buscado se distanciar de movimentos abertamente neofascistas, como CasaPound e Força Nova. “Mas, em nível de militância, não estou certo de que haja essa distinção”, afirmou o professor da Luiss.

Disputa interna

Embora disputem a mesma fatia do eleitorado, Meloni e Salvini fazem parte de uma coalizão chamada pela imprensa italiana de “centro-direita” e que ainda inclui Berlusconi.

Essa coligação governa a maioria das regiões da Itália, mas existe uma disputa interna pelo posto de partido mais votado dentro da aliança nas próximas eleições parlamentares.

Em 2018, a Liga de Salvini superou o FI de Berlusconi e assumiu o comando da coalizão, e agora Meloni projeta fazer o mesmo com o ex-ministro do Interior. As últimas pesquisas apontam que a aliança conservadora teria boas chances de obter maioria absoluta no Parlamento, e o líder do partido mais votado naturalmente reivindicaria o cargo de premiê.

Segundo D’Alimonte, as diferenças ideológicas entre Salvini e Meloni são “modestíssimas”. Eles convergem na defesa da assim chamada “família tradicional”, ao mesmo tempo em que são contra a vacinação obrigatória, o direito de adoção por homossexuais e o acolhimento de migrantes salvos no Mediterrâneo.

Ambos são soberanistas e até pouco tempo atrás defendiam a saída da Itália da União Europeia, mas hoje não falam mais nisso – o país é o maior beneficiário do fundo da UE para o póspandemia, com direito a quase 200 bilhões de euros.

Ainda assim, Meloni e Salvini mantêm o tom crítico em relação a Bruxelas e rejeitam projetos que aumentem a integração no bloco.

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