
A cantora italiana Rita Pavone, de 80 anos, disse que seu maior orgulho “é ter chegado até aqui como autodidata”.
Em entrevista à agência Ansa, a artista, que ainda mantém a mesma energia que a levou a atravessar gerações ao se transformar de uma “garotinha de Turim” a um ícone da música pop da Itália, criticou o atual cenário musical: “Chegar ao sucesso é fácil, difícil é se manter”.
Sobre isso, Pavone disse ter “orgulho de ter chegado até aqui como autodidata”.
“Depois da escola, fui trabalhar em uma fábrica de camisas, estudei por conta própria, tentei entender como era o mundo. E pensar que, quando eu era bem jovem, nas minhas primeiras entrevistas, pedia para [o cantor e marido] Teddy Reno responder [por mim] porque tinha medo de dizer bobagens”, revelou a diva da canção italiana no auge de seus 63 anos de carreira.
“Gosto de recordar os sucessos nascidos em uma época em que as redes sociais não existiam e nem a inteligência artificial”, acrescentou a cantora, que tinha apenas 17 anos quando venceu, em 1962, a primeira edição do festival para artistas desconhecidos em Ariccia, no Lazio, que lhe rendeu o primeiro contrato com uma gravadora.
“Poucos meses depois, gravei meu primeiro álbum, “La Partita di Pallone”: eu nem tinha foto na capa”, lembrou-se Pavone, que acaba de ser contemplada com o prêmio Lunezia por sua carreira.
A artista, que teve seu pai como seu primeiro e grande apoiador, teve um ano “inesquecível” em 1963 com o lançamento dos sucessos “Alla mia età”; “Sul cucuzzolo”; “Come te non c’è nessuno”; “Il ballo del mattone”; “Non è facile avere 18 anni” e “Datemi un martelo”.
“E então [veio] a minha [música] preferida: ‘Cuore’, versão italiana de ‘Heart'”, do hit americano composto por Barry Mann e Cynthia Weil e interpretado por Wayne Newton.
Mas ela não se limitou aos palcos, atuando também em frente às câmeras, como na série “Il giornalino di Gian Burrasca”, dirigida por Lina Wertmüller, com trilha sonora de Nino Rota e orquestrada por Luis Bacalov, que fez a canção “Viva la pappa col pomodoro” rodar o mundo em 1964.
Como se não bastasse, Pavone ainda brilhou em musicais com outros grandes nomes italianos, como Totò, Giancarlo Giannini e Giulietta Masina.
No exterior, sua voz percorreu inúmeros países: Brasil, Argentina, Espanha e Estados Unidos, onde ainda mantém fãs.
“Nunca me esqueci quando, em 7 de março de 1965, meu nome foi escrito no outdoor depois dos de Duke Ellington e Ella Fitzgerald”, revelou Pavone em referência a um show nos EUA, onde também se apresentaram o compositor e a cantora americana, dois marcos da música do país.
Casada há 57 anos com o cantor e produtor ítalo-suíço Teddy Reno, criador do festival dos desconhecidos de Ariccia, a artista comentou a polêmica inicial de seu matrimônio em 1968 na Suíça: além de ser 19 anos mais jovem, seu marido ainda era casado no civil na Itália com Vania Protti, com quem tinha um filho – na época, não havia divórcio em território italiano.
“O encontro com Teddy mudou minha vida. Estamos casados há 57 anos e vivemos para si e para os nossos filhos. Não poderia ser melhor”, disse Pavone, mãe de Alessandro e Giorgio.
Sobre a música atual, a veterana dispara: “Vencem os talentos e o sucesso chega com facilidade. Esses jovens artistas apresentam números impressionantes, mas podem ter apenas duas ou três canções no currículo, e depois precisam trabalhar em músicas de outras pessoas ou de convidados importantes”.
“Eu costumava dançar, indo da mazurca ao tango, da valsa ao tchá-tchá-tchá… Chegar [ao sucesso] é fácil, manter-se é que é difícil”, acrescentou Pavone, ao comparar o atual contexto com o auge de sua época.
Sobre seu aniversário de 80 anos, ela quer celebrá-lo em família.
“A melhor coisa é rir juntos, dividir a felicidade com dois ou três amigos que mantemos no coração”, concluiu a cantora.