
O Papa Leão XIV publicou a carta apostólica “In unitate Fidei” (“Na unidade da Fé”, em português), por ocasião dos 1,7 mil anos do Concílio de Niceia, na qual defendeu a unidade e fez um apelo para os cristãos serem “sinal de paz e instrumento de reconciliação”.
O líder da Igreja Católica destacou que “o amor a Deus sem o amor ao próximo é hipocrisia” e o “amor radical ao próximo, sobretudo o amor aos inimigos, sem o amor a Deus, é um heroísmo que nos oprime e esmaga”.
Em um dos trechos do documento, o Papa afirma que, para muitos, “Deus e a questão de Deus quase não têm significado na vida”, lembrando que o Concílio Vaticano II reconheceu a corresponsabilidade dos próprios cristãos, “porque não dão testemunho da verdadeira fé e escondem a verdadeira face de Deus com estilos de vida e ações distantes do Evangelho”.
“Guerras foram travadas, assassinatos, perseguições e discriminações ocorreram em nome de Deus. Em vez de proclamar um Deus misericordioso, falaram de um Deus vingativo que inspira terror e pune”, escreveu.
Por isso, segundo ele, o Credo Niceno continua sendo um convite permanente ao exame de consciência.
No âmbito ecumênico, Robert Prevost destaca que “o que nos une verdadeiramente é muito mais do que o que nos divide” e alerta que em um mundo dilacerado por muitos conflitos, uma comunidade cristã unida pode tornar-se “sinal de paz” e “instrumento de reconciliação, contribuindo decisivamente para um compromisso global com a paz”.
Leão XIV lembra que o Concílio de Niceia possui “profundo valor ecumênico” e que a busca pela unidade entre todos os cristãos foi uma das metas centrais do Concílio Vaticano II. Ele recorda ainda a Encíclica “Ut unum sint”, de São João Paulo II, publicada há 30 anos, como marco atualizado desse chamado à unidade.
Apesar de reconhecer que a plena comunhão entre católicos, ortodoxos e comunidades oriundas da Reforma ainda não foi alcançada, o Papa destaca os avanços das últimas décadas: “Compartilhamos a fé no único Deus, confessamos juntos o Senhor Jesus Cristo e o único Espírito Santo, que nos impulsiona à unidade a ao testemunho comum do Evangelho”.
Por fim, o Santo Padre exorta as Igrejas a deixarem para trás disputas teológicas “que perderam sua razão de ser” e a cultivarem um caminho comum marcado pela oração, pelo diálogo e pela partilha dos dons e heranças espirituais.
“A restauração da unidade entre os cristãos não nos empobrece; pelo contrário, nos enriquece”, ressaltou.
A Carta Apostólica é divulgada poucos dias antes da viagem do Papa à Turquia, onde participará das comemorações pelos 1700 anos do Concílio de Niceia — evento que, segundo ele, continua oferecendo um “modelo de verdadeira unidade na legítima diversidade”.



